Viva seu presente, mas encare seu PASSADO.

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Esperar é algo da essência humana. Entramos na civilidade de forma dependente do outro. Um bebê ao nascer precisa de afeto e cuidados básicos para a sobrevivência, ele espera e necessita de um cuidador. Pela ordem natural das coisas, essa dependência deve morrer ao entrar na maioridade, mas, na prática, o que temos são adultos regressos nas necessidades infantis não atendidas.

No mundo adulto não é difícil vermos o quanto precisamos do outro. Isso fica explícito em questões do cotidiano, um espera pela aprovação o tempo todo do outro, tem aqueles que preferem o silêncio no diálogo porque pensa que seu par vai perceber sua insatisfação, tem aqueles que sabem o que precisa ser feito, mas esperam que alguém o diga e por aí vai. Percebe o quanto normalmente dependemos do outro? Ainda que você diga que é do tipo de pessoa ativa e prefere dar conta de suas tarefas sem que seja mandado (a), ainda assim você espera pelo reconhecimento.

Atendi uma vez uma pessoa que abdicava horas de sua vida ao trabalho, mesmo em casa. Muitas vezes deixava de passear em família porque havia levado trabalho para casa, não se desligava dos emails e dos grupos de trabalho. Estava o tempo todo sendo autossuficiente, mas acreditava ser apenas porque era responsável. Um dia recebeu um feedback do chefe que ele precisava deixar de ser centralizador, e que se dividisse com alguém podia tornar o serviço mais leve, mas que estava de parabéns pelo empenho. Aquilo lhe pareceu decepcionante, seu foco foi apenas na parte negativa da conversa. Isso o chateou bastante, a ponto de repensar continuar na empresa ou não.

Mas, por que geralmente o que o outro diz ou pensa a nosso respeito afeta tanto nossa autoestima? Precisamos entender que ninguém, por mais seguro que seja, é autoimune. Somos seres humanos e buscamos sim aprovação, esperamos reconhecimento pelo que desenvolvemos seja em qual área for. E sabe por quê? Porque nosso “HD” psíquico foi criado para interagir com o outro. Na construção do mundo os seres foram criados por pares, incluindo o homem. Essa dicotomia entre o que o “Eu” precisa e o que “esperam” de nós é algo adoecedor e precisa achar a medida certa para não perturbar mais do que suporta a mente humana.

Não podemos mudar o que o outro pensa de nós, simplesmente porque ele enxerga conforme as necessidades dele e não como realmente somos, mas podemos pensar porque necessitamos tanto passar uma imagem perfeita para o outro. E porque muitas vezes abdicamos fazer algo que realmente é necessário a nós a preferir agradar alguém. Acredito muito que o indivíduo que vive em prol do outro é uma pessoa que não conhece a si mesmo, alguém que de certa forma está tentando correr atrás das lacunas que foram abertas no seu desenvolvimento e por isso deixa de viver seu momento presente para tentar reparar um passado não bem resolvido. Porém, isso não é possível, sinto muito em lhe informar. As únicas coisas que vai alcançar é estresse, conflito e muita dor.

Na sua vida atual não cabe reagir ao mundo como aquela criança perdida e abandonada, isso você resolve em terapia. O que a vida exige do seu presente é um adulto em plenas condições de encarar os desafios e que não fique como as crianças esperando reforço para repetir algo.

 
 
 

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Iranir Fernandes
Iranir Fernandes
Iranir Fernandes ψ - Psicóloga (CRP 05/54281), Palestrante, Escritora e Pós Graduanda em Psicologia Junguiana. Tem experiência de atendimento individual, casal e orientação de família. Trabalha com a abordagem Analítica de Carl Gustav Jung em atendimentos presenciais (Rio de Janeiro) e Online. Coautora do livro "A mulher negra e suas transições".

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