Usando música na terapia me tornei artista.

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“A música é a arte de manifestar os sentimentos de nossa alma através de sons.” (Autor desconhecido)

Há quem pense em psicoterapia como aquela experiência chata em que uma pessoa senta e fala coisas desconexas sem parar. E há os que pensam nela como uma máquina de reprodução de seres perfeitos após terem passados por suas maravilhosas técnicas. Eu, de verdade, penso que fazer terapia é uma arte.

Psicoterapia é a junção de duas palavras gregas que significam: Psique (alma) e Terapia (tratar). Assim, fazer psicoterapia é tratar a alma e isso nos coloca às vezes numa posição simbólica de semideuses ou até mesmo presos na crença médica que nos faz sentir como responsáveis pela cura.

Nenhum dos dois sentidos são válidos na realidade. Isso porque um terapeuta não é um Deus, assim como também não é um médico que maneja medicações e reduz sintomas. Na verdade, em muitos casos, a gente precisa aceitar que nada poderemos fazer a não ser acolher, dar afeto, intuir, independente da abordagem psicológica que usamos na prática clínica.

Influenciado pela intuição e impulsionado pela vontade de cuidar de almas, muitas vezes saí da zona de conforto, me desafiei agir diferente, buscando alternativas para acessar os pensamentos que as almas externalizavam. Deste modo é que surgiu para mim a música, assim me utilizando dela em terapia me tornei um artista..

A música já esteve presente nas minhas sessões muitas vezes e sempre mudava completamente os protocolos de atendimento da psicoterapia cognitivo-comportamental. Ao incluir música numa sessão a gente passa a trabalhar com o inesperado, podendo ser surpreendido com a manifestação cognitiva que ela proporciona elaborar.

Às vezes a gente pensa que determinada letra vai contribuir para o paciente aprofundar alguma questão, mas acaba tocando em algum ponto diferente que se conecta ou não com a demanda inicial que o traz a terapia. Quando isso acontece, se não tivermos compreensão do que está se passando, as coisas podem parecer confusas e até frustrante, como quando estamos criando algo e a inspiração fica um pouco nebulosa na mente, parece que não anda.

Já experienciei momentos interessantíssimos no consultório onde a música foi fator fundamental para o paciente perceber sua forma de pensar e sentir. Um deles foi o caso de uma jovem que tinha consecutivas tentativas de suicídio e dificuldades de relacionamento com os pais, assim refletimos na letra “Pais e Filhos” da Banda Legião Urbana.

“Dorme agora… É só o vento lá fora…”

“Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo. São crianças como você. O que você vai ser quando você crescer?”

A música tem o poder de mexer com nossas emoções. Ao ouvir o som, o toque do violão, acompanhar a letra, a pessoa se conecta com sua dor, e tem a possibilidade de dividir o sentido daquilo que está ouvindo, assim identifico padrões de pensamentos, sentimentos e crenças pessoais.

Essa mesma paciente também já trouxe em momentos de conflitos com os pais a letra “Imortal” da dupla Sandy & Junior e isso me ajudou a compreender alguns de seus pensamentos sobre eles.

“Eu vou seguir o meu caminho e te esquecer.

Pensar um pouco em mim, tentar viver. Seria o bastante.”

Em muitos casos é somente através dessas letras que eles conseguem, de fato, explicar o que pensam ou sentem. Se eu não der abertura para a criatividade ao longo do processo terapêutico, certamente muitos desistiriam da terapia, porque de fato falar de suas dores não é confortável, fácil é viver no Modo Protetor Desligado, se desligando e se protegente de suas dores ou, em outras palavras, vivendo verdadeiramente no piloto automático.

Certa vez fui surpreendido com uma música por outro paciente que faz acompanhamento devido à depressão. Ele queria contar sobre sua ideação suicida e por não saber como fazer pediu para cantar a música do cantor Regis Danese chamada “Depressão” no início da sessão.

“Não pense em tirar a sua vida

Deus tem um plano pra você

Pra tudo existe uma saída

Porque essa vontade de morrer?”

Ao ouvi-lo cantar percebi seu pedido de socorro… Falamos sobre isso, refletimos, aprofundamos temas necessários para o momento e assim seguimos o tratamento.

Como mencionei no início do texto, fazer terapia é uma arte, é criar algo novo em meio ao tradicionalismo, é se tornar acessível, transparente, é intuir. Para mim significa me aproximar ainda mais das pessoas, pois a música fala de nós, daquilo que gostamos de ouvir, pois só investimos energia em ouvir músicas que nos tocam.

Existem pesquisas explicando a função terapêutica da música e eu ratifico que, de fato, ela é muito promissora para a prática clínica de nós psicólogos. Me ajudou e continua me ajudando em muitos casos e ao utilizá-las me tornei mais flexível e acessível para muitos pacientes.

E você, me conta aí, qual música mexe contigo?

Eu gosto dessa aqui ó… Porque penso que os acasos nos surpreendem…

“Quem um dia irá dizer

Que existe razão

Nas coisas coisas feitas pelo coração?

E quem irá dizer

Que não existe razão?

 

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Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo Clínico (CRP 05/54280), Especialista em Psicoterapia Cognitiva e Doutor em Psicologia pela UFRRJ. Atua como Terapeuta Cognitivo comportamental e Junguiano. Tem formação em Terapia Cognitiva, Terapia do Esquema, e Terapia da Aceitação e Compromisso. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental e Autoconhecimento, Memória Social, História da psicoterapia e Formação do Masculino.

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