Em 2007 eu estive em Montevidéu no Uruguai, num evento acadêmico representando minha universidade e a pesquisa que eu estava envolvida. Lá eu conheci Santiago e foi amor à primeira vista. Meu nome é Maitê, tenho 37 anos, e eu vou contar pra vocês o que aconteceu com essa história pra eu ir parar na psicoterapia.
Em julho de 2007, quando eu tinha 23 anos, fui selecionada pelo meu orientador de pesquisa para representar nosso grupo de estudos num congresso que aconteceu na Universidade Católica do Uruguai (Universidad Católica del Uruguay). Na época, eu estava terminando um curso de mestrado, e pesquisava sobre “a dor em pacientes com complicações dermatológicas e o cuidado em enfermagem”. Era uma pesquisa bem importante pra mim e o congresso uma chance de eu ter contato fora do Brasil e conseguir uma bolsa de pesquisa para o doutorado.
Eu fui super animada… Saí de carro de Porto Velho em Rondônia e demorei uns quatro dias até chegar em Montevidéu. Foi uma viagem bastante cansativa, e eu contei com a carona de uma amiga que coincidentemente também estava indo pra um evento acadêmico na mesma cidade, mas em outra faculdade.
O evento tinha duração de três dias e minha apresentação era logo no primeiro. Como queria participar de tudo e estava muito ansiosa, cheguei na sala com 40 minutos de antecedência e, enquanto as pessoas organizavam os preparativos para o início da primeira mesa de palestras, entrou no auditório um cara branco, de cabelo liso, usando óculos e carregando uma pequena mala. Quer a verdade? Foi amor à primeira vista.
O nome dele era Santiago e na época tinha 29 anos. Era um cara alto, branco, tinha o corpo atlético, depois descobri que praticava natação, usava óculos com lentes bem pequenas e roupas no estilo conservador, social. Ele entrou no auditório, não me notou e sentou-se na primeira cadeira, umas cinco fileiras ao meu lado direito. Eu o observei por alguns minutos de longe, fiquei encantada com a educação que demonstrava pelas pessoas que entravam e interagiam com ele, mas eu não conseguia entender sobre o que conversavam. Assim que concluíram os preparativos para o início das palestras descobri que dividiria a mesa com ele.
Quando começou o evento o apresentador da mesa leu nossos currículos. Apesar da pouca idade, Santiago era Phd em fisioterapia, um pesquisador respeitado no tema “investimentos em cuidados paliativos” em seu país… e eu, uma mera estudante de mestrado… me senti assim na hora rs.
Logo que anunciaram meu nome, Santiago colocou sua mão esquerda em cima da minha e deu um sorrisinho leve de canto de boca. Eu me estremeci toda e fiquei confusa com aquilo, não entendi ao certo se ele estava sendo apenas educado ou mostrando algo mais. Por educação, eu retirei minha mão e apenas acenei com a cabeça. De qualquer forma, foi o suficiente pra meu interesse aumentar e por isso fiquei mais nervosa e distraída para a apresentação. Claro que minha fala foi um fiascooooooo e eu acabei péssima por esse desempenho, deixando nítido para todos em meu semblante.
Santiago percebeu logo e depois da apresentação se aproximou de mim no corredor da biblioteca onde eu estava aguardando para ingressar na próxima mesa de debates. Ele foi educado comigo, se apresentou pessoalmente, disse que tinha ficado preocupado e queria saber como eu estava. Eu me senti acolhida naquele momento e comecei a conversar. Praticamente ficamos conversando o dia todo e nem prestamos atenção nas palestras que seguiam (que péssimo isso). Mas eu não conseguia pensar em outra coisa a não ser dar atenção a ele…
No final do dia, eu disse que precisa voltar para descansar no hotel e senti que já estávamos envolvidos sem nem termos nos tocado. Quando eu me despedi e avisei que precisava partir, ele simplesmente disse que iria pra qualquer lugar do mundo desde que estivesse comigo. Eu ri do comentário e nos beijamos apaixonadamente. Depois, fomos para o hotel onde passamos uma das melhores noites da minha vida.
Eu acordei no segundo dia mais apaixonada que nunca, mas o Santiago já tinha ido. Deixou um bilhete na escrivaninha falando sobre como tinha sido bom e que nos encontraríamos novamente no terceiro dia, pois ele estaria por lá. Não me deixou telefone, nem tivemos tempo de falar sobre isso, e eu fiquei perdida, mas ao mesmo tempo esperançosa.
Ainda animadíssima com tudo, levantei nesse segundo dia, me arrumei e fui pra universidade. Foi um dia incrível, eu assisti palestras muito interessantes e por volta das 15h recebi um e-mail do Santiago (ele conseguiu meu e-mail através de meu currículo virtual de pesquisadora). Na mensagem ele dizia que estava com saudades e que me esperava num pátio atrás do prédio aonde eu estava. Li o e-mail com o coração já na boca, feliz, empolgada, e logo fui ao seu encontro. O lugar era lindo, um pátio grande com um lago enorme com patinhos brancos. Ele estava do outro lado do lago me esperando com os braços abertos e eu me senti num filme, numa novela indo ao encontro do meu amado. Que coisa…! eu já me sentia apaixonada por ele mesmo só o conhecendo há algumas horas…
Nosso encontro foi como o primeiro, carinhoso, com muita admiração e ao mesmo tempo afoito. Santiago estava ofegante ao me beijar e queria transar naquele momento. Eu me senti pressionada, com receio, mas também desafiada. Acabei cedendo. Transamos numa sala pequena que dava acesso ao banheiro de serviço do prédio, num andar onde não tinha evento naquele momento. Foi a coisa mais louca que eu já fiz na minha vida.
Assim que terminamos ele continuou sendo super carinhoso, mas logo deu uma desculpa pra ter que partir e foi… Novamente eu entendi nada, porém estava feliz e já imaginando que receberia outro e-mail para uma nova aventura… isso não aconteceu.
Eu passei do segundo para o terceiro dia na expectativa de voltar a encontrá-lo. Conversei com alguns amigos do Brasil contando como estava sendo a experiência e para uma amiga em especial eu falei do Santiago. Ela ficou cheia de neura, disse pra eu ter cuidado e um monte de coisas que me deixaram preocupada, mas eu não conseguia pensar muito naquilo, só desejava reencontrar com ele e continuar nossa história.
Santiago não entrou em contato novamente… Eu não dormi desse segundo para o terceiro dia. Fiquei aguardando uma mensagem, um telefona, algo assim e nada. Levantei cedo na esperança de encontrá-lo como no primeiro dia, até porque aquela imagem dele entrando no auditório não me saía da cabeça. Mas nada, ele tinha evaporado…
No final do dia, quando o evento estava acabando, após a última palestra de uma professora muito conhecida no Uruguai, também pesquisadora do tema “cuidados paliativos”, eu vi Santiago passar rapidamente pela porta, mas quando pensei em levantar e ir até ele, a palestrante finalizou sua fala e todo auditório se levantou alvoroçado e aplaudindo, o que me impediu de saber a direção que ele havia tomado. Logo que todos se sentaram novamente eu o vi, mas ele estava saindo do auditório de mãos dadas com a palestrante. Eu corri pra saber o que estava acontecendo mas em meio as muitas pessoas saindo não consegui alcançá-lo. Depois de alguns minutos os vi distante indo embora…
Bem, a partir daí eu comecei a me sentir mal. Fui pesquisar nas redes sociais e no google sobre os dois e descobri que eram casados há um ano. Eu só pensava que havia sido usada por um cara que mal conhecia. Eu sei, eu quis estar com ele, mas não sabia que era comprometido. Eu me apaixonei por um cara que não existia. De verdade, eu retornei ao auditório e fiquei sentada numa cadeira meio desnorteada com a situação. Me sentia suja e ao mesmo tempo boba. Perdida numa terra longe de tudo e de todos que me faziam bem…
De lá pra cá eu não consegui mais me relacionar direito com as pessoas, passei a desconfiar de tudo e isso minou todos os meus relacionamentos amorosos até aqui. Foi essa história que me levou até a psicoterapia e agora eu estou aprendendo a lidar com esse trauma. Eu não quero mais me sentir usada, enganada e com crises de ansiedade constantes, mas parece que isso acontece sempre…
Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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