Uma história sobre viver assombrado pelo passado.

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Quando o coração acelerou de novo e a cabeça parecia estar dando um giro 360°, mais uma vez eu respirei fundo tentando me acalmar. Meu nome é Sidney, tenho 49 anos, sou funcionário público e vou contar pra vocês como fui parar na terapia.

Depois desse último episódio de ansiedade que eu comecei a relatar eu passei a desacreditar na possibilidade superar isso sozinho. Desde novo eu sempre me senti mal as vezes, mas nunca aceitei a hipótese de procurar ajuda.

Eu sou do interior de Minas Gerais, cresci na roça ajudando meus pais com a plantação, problemas psicológicos sempre foram discutidos como coisa de gente fresca, de homem frouxo, essas coisas, Então nunca cogitei procurar ajuda, porque exigia de mim mesmo a superação.

O problema foi que os sintomas aumentaram. Quando eu era mais novo me sentia apenas ansioso, o coração acelerava às vezes, mas me acalmava com o tempo. Com o passar dos anos, comecei a assistir vídeos no YouTube e com ajuda de varias pessoas que acompanhava por lá eu aprendi algumas técnicas muito boas, mas elas não funcionam sempre e aqui estou.

Quando eu agendei a terapia meu estado de saúde já estava péssimo. Se deseja saber se cheguei ao fundo do poço eu digo que sim, porque pensava em suicídio diariamente como alternativa pra lidar com a tristeza de viver sentindo dores no corpo sem saber ao certo o motivo de tudo aquilo.

Quando o psicólogo me questionou: – Sidney, como você está? O que aconteceu contigo? Minha resposta foi um choro tímido e entalado na garganta por anos. É difícil até de explicar aquele momento. Foi um pouco de alívio misturado com tensão do momento, afinal de contas, eu nunca havia falado de mim pra ninguém.

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Depois de me acalmar, mas ainda sem conseguir olhar pra tela do computador onde estava o psicólogo, eu disse: – eu estou cansado de ser forte. Guardo muita coisa dentro de mim desde criança e hoje já não aguento mais segurar tudo isso. Eu sinto como se fosse explodir.

Por me sentir confortável contei a pior lembrança que tinha da infância, pois presenciei o assassinato de meu tio e a cena não saía da minha cabeça. Eu vejo e revejo a cena como se fosse hoje. Ela passa como um filme repetido na minha cabeça, como se eu ficasse rebobinando uma fita de vídeo.

Lembro sempre de ouvir gritos, de alguém discutindo com meu tio e depois de o barulho do tiro. Eu corri pra frente da casa e encontrei meu tio já caído no chão e o cara correndo na rua segurando a arma. Meu tio não teve tempo de nada, ele morreu na hora eu fiquei lá desolado, sem entender de fato aquilo tudo, desesperado, morrendo com meu tio. Eu tinha apenas 7 anos.

Eu guardei essa história dentro de mim como se ela não significasse nada, mas não é verdade. Não tem um dia em que eu não pense no meu tio e naquela cena. O que mais me dói é saber quem fez aquilo, vê a pessoa andando pela cidade e me sentir de mãos atadas porque ela foi inocentada no julgamento. Aí eu vivo um mixer de tristeza, saudade, impotência, revolta, desesperança, tudo junto.

Bem, depois de mais ou menos um ano e meio em terapia, eu já entendi que não somos o que nos aconteceu, mas sim, o que escolhemos ser, porém elaborar na prática essa verdade não é uma tarefa fácil. Ficar assombrado pelo passado é muito ruim, e a vida toda eu acreditei em mim como um cara incapaz em virtude dessa parte pesada da minha história. Reconhecer que as coisas podem ser diferentes leva tempo.

O melhor de tudo isso é ter conseguido diminuir um pouco as crises. Aqueles pensamentos continuam rondando a

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minha cabeça, porque apagar a cena que vi na infância não será possível, segundo meu psicólogo não dá pra apagar memórias. Mas hoje eu consigo pensar muitas coisas sobre aquele evento e isso me ajuda e organizar melhor as ideias. Antes eu ficava confuso e angustiado por pensar demais naquilo tudo sozinho, agora eu consigo entender melhor muitos dos meus pensamentos e seus impactos na minha vida.

 

Nenhum de meus contos retrata o caso de algum paciente atendido por mim. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.

Se quiser falar comigo ou se estiver à procura de ajuda para si ou para alguém entre em contato.

Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo Clínico (CRP 05/54280), Especialista em Psicoterapia Cognitiva e Doutor em Psicologia pela UFRRJ. Atua como Terapeuta Cognitivo comportamental e Junguiano. Tem formação em Terapia Cognitiva, Terapia do Esquema, e Terapia da Aceitação e Compromisso. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental e Autoconhecimento, Memória Social, História da psicoterapia e Formação do Masculino.

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