Uma história sobre ter que escolher entre o Estado da Califórnia ou Goiânia.

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Imagem do site Pixabay.com

Eu estava solteira fazia quatro anos, mas não sentia falta de companhia. Vivia um momento ímpar em minha vida, tudo caminhava muito bem, tinha amigos, família, um bom trabalho e muita diversão.  Então, eu já estava pronta pra realizar um sonho de muitos anos que era conhecer o Estado da Califórnia nos Estados Unidos… e aí apareceu o Paulo César. Meu nome é Andressa, tenho 31 anos, e vou contar pra vocês como foi viver uma alegria inesperada e uma tristeza de morte.

O ano de 2017 foi marcante em minha vida porque eu fui da felicidade plena à tristeza, a ponto de não desejar mais viver. Na época, eu tinha três anos de formada e vivia um período muito próspero. Apesar de jovem, eu trabalhava em minha área de formação e conseguia ser independente financeiramente, administrava minha vida do jeito que eu sempre quis com liberdade e ousadia e sentia que ela estava seguindo pela direção planejada.

Eu me tornei arquiteta em dezembro de 2014. Estudei por cinco anos num centro universitário chamado UNIFIMES, uma faculdade privada que fica em Goiânia, e por sorte ou por competência, eu não sei explicar com tanta certeza, assim que me formei já comecei a trabalhar na área e em pouco tempo atingi o patamar profissional de alguém que estava no mercado há uns dez anos mais ou menos.

Então tudo foi acontecendo de forma muito rápida. Da noite para o dia eu já estava conseguindo me manter sem ajuda dos meus pais, a ter liberdade pra decidir como queria investir meu dinheiro, escolher se comprava uma casa, um carro ou viajava, ou até fazer outro curso, ou qualquer outro investimento. Realmente foi um período muito próspero e eu tenho boas recordações daquele início.

Diante das muitas opções eu decidi comprar um carro e investir também numa viagem desejada há anos. Quanto ao carro, eu preferi um popular mesmo e comprei o mais barato que encontrei na época e foi uma das minhas melhores escolhas. Com ele passei a ter mais tempo pra fazer atividades profissionais e também aumentei minha mobilidade para viagens mais distantes. Sobre a viagem, a decisão foi realizar um sonho de adolescência que era conhecer o Estado da Califórnia nos Estados Unidos.

Sessão da Tarde': descubra qual filme foi exibido no dia em que você nasceu  - Revista Marie Claire | CulturaE você pode estar se perguntando: Mas por que o estado da Califórnia, Andressa? E a resposta é simples: De tanto assistir filmes americanos na “Sessão da Tarde” da Rede Globo rsrs.

Sim, eu era uma adolescente que chegava da escola, almoçava, tirava uma soneca e assistia televisão a tarde toda. Por isso, diariamente assistir a filmes fazia parte da minha rotina e a maioria deles era produção norte americana e muitos com cenas em praias californianas. Lembro de um deles, especificamente, porque o tema é bastante sensível, se chama “Aos Treze”, e descobri na época através de pesquisa que algumas cenas foram gravadas lá.

Eu me planejei bastante para essa viajem. Desde o início da faculdade já juntava um dinheirinho sonhando com o momento, e por manter contato com alguns amigos que já estavam vivendo por lá tudo na minha cabeça estava bem organizado. Mas, no final das contas, por causa desses amigos de lá, acabei surpreendida com uma proposta de trabalho temporário (06 meses) e assim passei acreditar mesmo que eu precisava conhecer aquele lugar.

Com dinheiro guardado, passagem comprada com antecedência de nove meses, passaporte e visto pronto, e tudo mais que exigia o momento, quando faltava uns nove meses pra viagem decidi que era o momento ideal pra ir me despedindo das pessoas. Afinal, apesar da viagem ser programada para durar seis meses, tudo podia acontecer e talvez permanecer por mais tempo seria uma oportunidade ímpar pra mim.

Eu realmente estava muito feliz com tudo que estava acontecendo na minha vida.

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Aí, nessas de marcar encontro com familiares e amigos em bares e restaurantes, eu conheci o Paulo Cesar e me apaixonei. Cesar era divorciado, tinha 30 anos na época, era gerente financeiro numa empresa de cosmético e um cara tranquilo. Ele mantinha um estilo de vida saudável, gostava de ler livros, saía pouco com os amigos e dizia buscar alguém para um relacionamento sério. Nós nos conhecemos num desses encontros de despedidas e começamos a nos relacionar sabendo que não passaria disso, apesar de percebermos o quanto nos conectávamos emocionalmente.

Eu passei exatamente dois meses me encontrando com ele. Nesse pequeno espaço de tempo eu me vi cumplice de sua vida e ele da minha. A gente falava de sonhos e planos, a gente se curtia, experimentava coisas juntos e saciava o desejo de vida, felicidade e sexo, um do outro. Foram dois meses realmente bastante intensos na minha vida até que quando estava se aproximando da semana da viagem ele me chamou pra conversar e pediu pra eu não ir.

Olha a situação em que eu me meti. Nossa, como foi difícil falar pra ele que não podia, que nossa história tinha que morrer ali e que não teria como levar um relacionamento à distância. Eu nunca acreditei em namoros assim, jamais cogitaria entrar numa fria iniciando uma fase nova na minha vida, nós dois sabíamos que erramos ao nos deixarmos vivermos tudo aquilo, então colocar os pontos nos i’s foi difícil demais.

Eu fiquei com uma dúvida danada. Por diversas vezes pensei que poderia estar perdendo o amor da minha vida, que poderia estragar um futuro bonito apenas pra ter a experiência de conhecer um novo país e praias. Praticamente fiquei uma semana sem dormir direito, o encontrava, nos curtíamos, conversávamos e eu ficava mal de pensar na situação. A angustia foi tanta que decidi procurar uma ajuda terapêutica porque entender meus sentimentos passou a ser difícil pra mim.

Eu tive algumas sessões com o terapeuta antes da viagem, uma três na verdade, e decidi ir e de lá pensar melhor sobre a questão. No meio daquele turbilhão de emoções eu não conseguia definir o que estava pensando e sentindo, muito menos escolher. Escolha por escolha eu já tinha feito uma que era a de viajar e ficar por lá trabalhando por no mínimo seis meses, isso estava decidido muito antes de conhecê-lo. Depois dos dois meses de muito amor, eu estava pensando se meu futuro mudaria ou não.

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Apesar de não gostar da ideia mantivemos o relacionamento à distância. Cesar fazia chamada de vídeos todos os dias à noite e assim a gente se falava, trocava afeto, fazia planos e experimentava outras coisinhas novas pra mim até então. Esse momento foi importante porque ajudou a me acalmar um pouco, a tirar o peso da escolha que parecia me esmagar por dentro. Mas com uns quatro meses lá novamente comecei a pensar sobre o que fazer e a dúvida bateu forte em mim.

O Cesar ajudava em nada quanto a isso, ele simplesmente dizia que me queria por perto e pronto. Em nenhum momento ele cogitou a possibilidade de migrar comigo. Eu não o julgo por isso, mas hoje também penso que essa poderia ser uma possibilidade para conduzirmos a questão. Na época, ele simplesmente jogou em meu colo a decisão de ficar, de abrir mão de meus sonhos e planos por nós, enquanto ele manteria tudo como de costume.

E assim eu ficava de longe me cobrando, me culpando por minha escolha e me sentindo mal.

Com seis meses eu recebi uma proposta de trabalho fixo e assim tinha que tomar uma nova decisão. De novo como há seis meses eu me senti feliz e triste, fui do céu ao inferno porque sabia de ter que tomar uma nova decisão. Cesar quando descobriu fechou a cara, nem se quer me deu os parabéns, disse apenas pra eu ser feliz com a oportunidade e eu fiquei mal com a sua postura.

Minha ansiedade estava tão forte que já percebia o incômodo dela quando estava trabalhando. De inquietação com as pernas a taquicardia, cada dia mais eu me sentia mal por seguir com minha vida sonhando em estar com outra pessoa longe dali. Tive momentos de bastante crise e tudo isso sozinha. Só quem vive fora do país de origem vai me entender, eu acho. A dor era tanta, o incômodo era gigante, que até pensar em morrer eu já cogitava, até que numa sessão de terapia eu decidi seguir a vida com menos cobrança, deixando pra decidir se voltava ou não mais pra frente, talvez nas férias que tiraria em alguns meses, e quando contei isso pro Cesar ele disse que não dava pra me esperar, que eu devia ser feliz e desligou a chamada.

É isso mesmo que você leu. Ele me ligou como de costume, eu disse que não voltaria para o Brasil dentro de alguns meses e ele imediatamente me disse “seja feliz e tchau”. Eu sofri. Eu desejei morrer de novo. Pensei que estava fazendo a pior escolha da minha vida. Mas depois de alguns dias pensei melhor e entendi que não era pra acontecer. Cesar tinha todos os motivos dele pra escolher seu futuro, me incluindo ou não. Ele tinha seus sonhos, planos, desejos, e talvez manter uma relação à distância não cabia na vida sonhada por ele. E eu percebi que não adiantava me esforçar pra caber na vida de alguém que se quer disse o quanto sentia a minha distância e simplesmente desligou o telefone na minha cara. Eu decidi seguir e foi difícil, mas estou aqui ainda trabalhando em San Diego e essa decisão foi a melhor da minha vida.

 

Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.

Se quiser falar comigo ou se estiver à procura de ajuda para si ou para alguém entre em contato.

Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo Clínico (CRP 05/54280), Especialista em Psicoterapia Cognitiva e Doutor em Psicologia pela UFRRJ. Atua como Terapeuta Cognitivo comportamental e Junguiano. Tem formação em Terapia Cognitiva, Terapia do Esquema, e Terapia da Aceitação e Compromisso. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental e Autoconhecimento, Memória Social, História da psicoterapia e Formação do Masculino.

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