Sabe quando você não tem vontade de levantar da cama quando acorda. Eu me senti assim em 2018, logo que descobri a traição do meu marido. Acordar passou a ser uma das piores coisas da minha vida.
Todo dia quando o relógio toca parece até um reflexo eu ficar por alguns minutos mirando o teto. Aquela imensidão de branco parece me trazer um pouco de paz, além de me acalmar pra iniciar um novo dia. Meu nome é Flávia, eu tenho 42 anos, sou fisioterapeuta e vou contar pra vocês como minha vida ficou depois de 2018 e meu início na terapia.
Eu nunca fui loucamente apaixonada pelo Carlos. Quem me conhece de perto acharia estranha esta afirmação. Mas é uma verdade, eu nunca fui muito apaixonada por ele. O Carlos apareceu em minha vida num momento bastante difícil, onde eu estava fragilizada pós uma relação muito conturbada. Ele chegou de mansinho, sempre muito atencioso, me ajudou de inúmeras formas e eu me apeguei a ele como uma forma de viver algo diferente do que eu tinha vivido até então.
Aos poucos eu nutri um sentimento por ele. Posso dizer que o amei, sim, foi amor sim, não daria outro nome pra aquele sentimento, mas não foi nada avassalador, não foi paixonite, foi algo gostoso, maduro e consciente.
Nós nos casamos e passamos a viver juntos e desde o início nossa relação foi tranquila. Ele como sempre foi muito atencioso, e a única questão que me deixava desapontada foi o fato dele nunca ter decolado enquanto profissional. Financeiramente, eu assumi pra mim a responsabilidade de cumprir com todos os gastos familiares e ele ajudava como podia.
Não estou aqui pintando ele como um gigolô, porque isso não foi uma verdade. Nós vibrávamos em ondas diferentes no quesito trabalho, só isso. Eu tenho minha parcela de culpa nessa situação. Nunca exigi muita coisa dele desde que nos conhecemos. Como eu já era formada e tinha minha clínica, pensei ser irrelevante que ele me acompanhasse financeiramente, eu queria mesmo era ter a companhia dele, algo desejado há anos e não havia conquistado nos relacionamentos anteriores.
Em 2018, eu vivi um momento difícil. Minha clínica passou por uma fiscalização e algumas irregularidades foram identificadas, coisas que não eram do meu conhecimento, mas sim, falha de alguns funcionários e com isso eu me senti mal por perder muita receita. O Carlos parece não ter se importado muito. Na verdade, ele ignorou toda a situação, todas as vezes que eu tentava conversar era ignorada. Foi assim que eu fui parar na terapia.
Mas o pior estava por acontecer. Em setembro daquele ano eu recebi um telefona anônimo falando de um caso do Carlos com uma funcionária minha e o local aonde eles se encontravam. Foi difícil pra mim aceitar aquilo, eu tive que me preparar psicologicamente por um mês até tomar coragem e ir até o local. Eu peguei os dois no flagra…
Lembro de pensar apenas uma coisa: “Não confie em ninguém… por favor, pra você não sofrer mais… Não confie em ninguém…”.
Desde então eu decidi fazer do meu trabalho minha prioridade e o café se tornou minha verdadeira paixão. Eu acordo, bebo uns três copos de café, me arrumo e vou trabalhar. Ao longo do dia essa paixão está comigo e à noite também me relaciono com ele. Às vezes nossa relação é tão intensa que eu nem durmo.
Depois de tudo isso a terapia foi uma experiência necessária pra me ajudar a lidar com essas questões. A consequência foi trabalhar uma demanda após a outra, mas foi a solução encontrada pra minha vida naquele e neste momento.
Hoje eu ainda continuo apaixonada pelo café, mas já percebo que preciso me desvincular dele pra continuar a caminhar… Ainda não consigo, mas acredito que um dia tudo passará…
Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
Se quiser falar conosco ou se estiver à procura de ajuda para si ou para alguém entre em contato.