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O primeiro atendimento tinha sido maravilhoso, o fato de eu ter podido falar com alguém o que se passava comigo tirou um peso da minha costa que eu carregava fazia muito tempo. Eu estava disposta a mudar, viver uma vida diferente, mas não sabia como. Parecia que todos as ideias que vinham à mente eram loucuras demais para mim, eu me sentia presa a minha vida atual.

Eu retornei para a segunda consulta com a psicóloga porque imaginava que ali poderia encontrar algumas respostas ou alguma saída. Lembro de ter me arrumado, deixado minha filha mais nova na casa da minha mãe e peguei o metrô pra ir à sessão. Ao longo do trajeto eu pensava sobre o que falar. De verdade, eu não sabia novamente o que iria falar com ela. Novamente rolou aquele frio na barriga que eu havia sentido no dia anterior, mas dessa vez era diferente, era como se fosse apenas uma ansiedade, eu estava aflita pra chegar logo naquele lugar. 

Depois de bastante refletir defini o que falar. Lembro que eu pensei:

– Já sei o que direi pra ela, preciso contar sobre minha infância, de como era minha relação com meus pais.

Eu cheguei pontualmente pra consulta, quando ela me chamou eu já estava no corredor aguardando. Minha psicóloga não tem recepção, então a gente entra diretamente quando chega a nossa vez. Eu entrei na sala e novamente me senti calma. Como eu falei pra vocês no outro texto o lugar me transmitia paz e novamente eu senti-me assim.

A psicóloga como da primeira vez foi bastante simpática, questionou como havia sido a minha semana e se eu tinha pensado um pouco sobre o que falei na primeira consulta. Eu respondi que sim, apesar de estar com a ideia em mente de falar sobre outro assunto. A verdade é que ter que tocar naquele mesmo assunto era doloroso. Eu tinha certeza de não conseguir resolver de verdade a situação de forma rápida, então preferia não tocar diretamente no assunto pra não me sentir pressionada. 

Quando ela me questionou sobre o que eu desejava falar naquele dia, imediatamente eu respondi: – Quero falar sobre minha infância.

Eu falei de pronto que minha vida na infância não havia sido fácil. Eu tive que começar a trabalhar por volta dos meus 10 anos na feira com meus pais. Nós acordávamos todos os sábados e domingos às 03h da manhã pra estarmos às 06h na feira pra arrumar todos os tabuleiros. Ali eu comecei a ter noção de que a vida era feita de bastante esforço e que eu não teria um futuro fácil. Minha mãe sempre esteve ao meu lado, ela era uma mulher forte, carinhosa comigo e tentava sempre que possível me proteger de muitas coisas, mas muitas não eram possíveis e assim fui vivendo. 

Tocar neste tema me levou novamente àquelas experiências, eu senti na pele a temperatura das noites frias do fim de semana quando eu acordava e isso me lembrou também algo que me marcou muito, mas eu sempre busco não pensar nisso, que foram as coças que eu tomei de meu pai.

Meu pai era um homem bom, ele nunca deixou faltar nada pra gente. Se esforçou ao máximo pra conseguir manter tudo em ordem em casa, mas tinha uma questão difícil nele que a gente nunca conseguiu mudar, que foi o vício do álcool. Ele bebia muito, muito mesmo. Sempre nos esforçávamos pra compreender, motivá-lo a parar, pedi tantas vezes pra ele se cuidar e parar de beber, ele sempre prometia mas depois de certo tempo voltava novamente, era mais forte que ele.

Imagem do pixabay.com

Bem, eu apanhei muito do meu pai. Quando ele bebia se transformava em outra pessoa. Muitas vezes ele chegava em casa bêbado e descontava seus medos na gente. Parecia que o álcool tirava a paciência dele porque não conseguia esperar um minuto pra nada, tudo tinha que ser entrega na hora exigida por ele. Por exemplo, se ele pedisse a toalha pra tomar banho e eu demorasse uns 2 minutos pra entregar ele tirava o sinto e me batia. Nossa eu sofria tanto [choro]. Eu me sentia indefesa, impotente, menosprezada, frágil. Como eu me sentia mal por não poder ajudar minha mãe nessa situação. Ele agredia ela e ela não chorava pra não nos assustar. Falar sobre isso me dói tanto [choro].

Se aproximando já do fim da consulta a psicóloga com muito cuidado novamente me ofereceu o lenço e me questionou como era a relação com minha mãe e se meu pai ainda estava vivo. Eu respondi que meu pai havia falecido fazia 10 anos e que minha mãe vivia com uma irmã mais nova e elas estavam bem. Pra finalizar ela pediu pra eu refletir sobre minha mãe e sobre nossa relação ao longo do tempo, desde essa lembrança que eu levei pra terapia.

Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.

Se quiser falar conosco ou se estiver à procura de ajuda para si ou para alguém entre em contato.

Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo Clínico (CRP 05/54280), Especialista em Psicoterapia Cognitiva e Doutor em Psicologia pela UFRRJ. Atua como Terapeuta Cognitivo comportamental e Junguiano. Tem formação em Terapia Cognitiva, Terapia do Esquema, e Terapia da Aceitação e Compromisso. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental e Autoconhecimento, Memória Social, História da psicoterapia e Formação do Masculino.

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