Quando apareceu a imagem do psicólogo pela primeira vez no computador eu não sabia o que falar. Senti-me constrangido e ao mesmo tempo um imbecil por estar ali. O profissional foi simpático, ele se apresentou, tentou quebrar o clima com algumas frases que deve usar sempre no primeiro dia e até que ajudou um pouco. Meu nome é Mathias, tenho 29 anos, trabalho como analista financeiro e vou contar pra vocês como foi iniciar terapia.
Como eu disse, o psicólogo fez alguns comentários para quebrar o gelo no início da sessão. Eu comecei a terapia agora no período da pandemia e por isso foi online. Já tinha pensado em fazer terapia antes desse jeito mesmo, online, mas posterguei o máximo que pude até não aguentar mais.
Quando eu fui explicar o motivo da minha consulta simplesmente não tive palavras corretas pra isso. Falei muitas coisas, dei várias explicações e não consegui dizer o real motivo do encontro. Em determinado momento o psicólogo me questionou sobre como eu estava me sentindo e foi quando eu dei algumas pistas da motivação para o acompanhamento dele.
Apesar de não estar bem há vários meses eu não conseguia me sentir merecedor daquele momento. Começar a fazer terapia soava pra mim como seu eu fosse um cara fraco, que dava atenção a coisas banais. A decisão de conversar com alguém sobre mim era uma verdadeira perda de tempo, eu pensava. Quem se interessaria em ouvir o que eu tenho a dizer? Eu não parava de pensar isso.
Aos poucos o psicólogo foi percebendo como eu me colocava frente à situação. Naquela época, eu acreditei que por ele ser homem conseguia entender um pouco do que acontecia comigo, hoje eu penso outras coisas sobre isso. A parada é que ele sacou que eu estava constrangido por estar ali e que tinha algo mais profundo me desestimulando.
Falando sobre quando comecei a me sentir mal lembrei do final da adolescência, por volta dos meus 18 anos, quando terminei meu primeiro namoro. Eu era muito apaixonado pela Sabrina, a gente estava junto desde os 15 anos e apesar de sermos novos alimentávamos sonhos e planos para nós.
O motivo do término foi por uma mudança de Estado, a empresa que meu pai trabalhava transferiu ele e nós tivemos que acompanhá-lo. Esse afastamento impactou a vida de todos em casa e no meu caso mexeu com meu coração e autoestima.
Tudo começou por volta desse período. Eu guardo mágoas profundas do meu pai por causa disso. Na época eu disse que não iria me mudar com ele por causa da Sabrina e ele e minha família riram de mim. Me senti péssimo, cara. Eles zombaram do que eu estava sentindo, me chamaram de moleque e disseram que eu estava perdido e me apoiando apenas nos sentimentos.
Hoje eu penso que em tese eles não estavam errados, mas ter vivenciado aquela situação fez eu me sentir um verdadeiro idiota. Assim eu tenho me sentido desde então, um verdadeiro idiota em todos os lugares e em todos os sentidos. Penso direto que posso estar perdendo tempo com tudo, que meus sentimentos me enganam e são bobagens que eu devo ignorar, que não sou homem suficiente para mulher alguma porque deixei a Sabrina pra traz e não peitei meus pais na época.
Eu estou sempre ocupado e preocupado em agradar as pessoas. E venho sacando que a preocupação é uma morte na vida, porque só vivemos o hoje e ela nos coloca sempre tentando adiantar algo que não existe. Aos poucos vamos matando nossa capacidade de viver o presente com medo do que os outros pensam ou com medo do amanhã.
Nessa pandemia o que eu mais faço é trabalhar fora do horário de expediente pra que meu chefe se sinta satisfeito comigo, mesmo eu sabendo do erro que é trabalhar além da conta. Até meu cansaço eu ignoro, penso ser uma besteira.
Quem vai querer se relacionar com um cara assim? Quem vai querer trabalhar comigo? Eu pensava e ainda penso essas coisas direto. Por isso meu receio lá no início da terapia porque pensava que nenhum psicólogo iria querer me atender também.
Depois de alguns meses de terapia eu já percebi o fato de desvalorizar as coisas positivas da minha vida e eu mesmo enquanto pessoa. Talvez seja este o principal aspecto a ser desenvolvido em mim ao longo do tempo, reconhecer que eu sou um cara razoável apesar de tudo. Eu ainda não consigo me ver como um cara bom em nada, mas sei que isso é um processo.
Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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