Na segunda-feira de carnaval do ano passado eu decidi não sair de casa e observei meu telefone tocar treze vezes. Foram treze chamadas que o Humberto fez pra tentar falar comigo e entender o que estava acontecendo, porque logo que ele se declarou eu sumi.
Meu nome é Letícia, eu tenho 27 anos, e vou contar pra vocês um pouco da minha dificuldade com relacionamentos.
Humberto foi um dentre os vários caras que eu conheci, me apaixonei, e depois de certo tempo me afastei. Hoje, depois de eu ter retornado pra terapia, percebo que a culpa não foi dele, a gente se afastou porque algumas coisas pra mim ainda não estão bem resolvidas.
Demorei um pouco, mas entendi que a raiz de tudo isso tem a ver com primeiro relacionamento. Eu tive que resgatar meu passado e lembrar que comecei a namorar muito cedo, na época eu tinha 13 anos e meu namorado tinha 18. Era uma diferença de idade considerável, porém não percebíamos na prática, porque ele era tão imaturo quanto eu.
Nós ficamos juntos por 04 anos e depois de uns 02 anos e meio de namoro ele mudou bastante, se tornou extremamente agressivo e inconveniente. Por diversas vezes me tratou mal na frente de conhecidos e eu me sentia péssima por isso.
A paixão que eu nutria por ele me cegava. Ele tinha sido meu primeiro tudo e me acompanhou em muitos momentos. Meu primeiro beijo, minha primeira transa, minhas primeiras experiências de independência, em praticamente tudo na vida até então eu tive ele ao meu lado. Evidentemente, por esses motivos, eu desenvolvi uma dependência emocional ferrenha e conseguir me desprender dele foi difícil.
Lembro de, com o passar do tempo, ter vivenciado momentos de muitos insultos e de ele sempre apontar minhas fragilidades em nossas brigas. Parecia ter o prazer em falar de minha família, meus medos, meus erros enquanto estudantes, etc. Era literalmente uma tormenta. No entanto, ele também era carinhoso, dizia me amar e essa dinâmica de amor e violência me mantinha presa ao relacionamento.
A partir desse namoro meu meu mundo mudou. Eu que era feliz me tornei uma jovem triste, desanimada, fragilizada, me sentia incapaz pra muitas coisas na vida. Embora eu tivesse o desejo de terminar a relação, por muito tempo eu posterguei essa decisão porque não conseguia fazer isso. Todas as vezes que a vontade batia eu me sentia pequena, diminuída, pensava em muitas coisas que ouvia dele e acreditava mesmo que não conseguiria seguir sem ele e com mais ninguém.
Em determinado momento eu consegui, eu tive o apoio de minha família e isso me ajudou a tomar a decisão. Mas, hoje eu percebo que minhas relações nunca mais foram as mesmas, embora eu conheça pessoas legais, pessoas que dizem me amar, eu não consigo me envolver, sempre me mantenho na defensiva, fugindo de todos os amores para não me sentir frágil como antes.
O retorno pra terapia foi essencial, hoje eu reconheço afastar as pessoas de mim e o quanto me sinto frágil quando o assunto é relacionamento amoroso. Meu medo é viver a mesma coisa de antes, encontrar alguém romântico e violento ao mesmo tempo, mas estou confiante de que irei superar isso em breve…
Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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