Eu nunca teria pedido ajuda se não tivesse chegado ao fundo do poço. Mas, meu nível de irritação e tristeza estava tão forte que quando me olhava no espelho até minha própria imagem me gerava ódio. Eu percebia o quanto os detalhes me incomodavam… isso me angustiava, me desanimava e me levava de volta pra cama.
Tenho vivido um momento diferente na minha vida. Sinceramente, está tudo muito ruim em todos os sentidos e eu ainda não consegui mudar esses pensamento, mas nem sempre foi assim, de uns meses pra cá parece que as coisas pioraram e eu passei a me sentir mais desanimado.
Bem, meu nome é André, eu tenho 43 anos e vou contar pra vocês como comecei a vivenciar a depressão em meio à pandemia do covid-19.
No dia 02 de março deste ano, logo que cheguei no trabalho abri meu e-mail pra me atualizar das demandas. Li algumas mensagens até encontrar a do meu chefe e, pra variar, antes de ele me orientar, primeiro me descascou. Mais uma vez respirei fundo e fiz o que havia sido pedido. Eu me esforcei pra não criar mais um problema, afinal, nesse período tudo lá na empresa já estava uma loucura por causa do início da pandemia. Somos uma empresa prestadora de serviços de telecomunicação, serviço essencial durante esse isolamento social, por isso, a liderança da empresa estava num corre-corre decidindo tudo.
Eu trabalho nessa empresa faz 4 anos e desde o início meu maior desafio tem sido meu chefe. A pandemia não mudou nossa realidade, algumas coisas se adaptaram, outras nem tanto, mas tudo continuou “na mesma”, inclusive as pessoas, ele por exemplo só aumentou a chatice e eu já estava enojado.
O Marco é o típico chefe mesmo. Não líder. Aquele que parou no tempo, não estudou mais, tem uma visão de trabalho diferente do mercado e assedia todos os funcionários. Depois de um ano trabalhando com ele eu já comecei a ficar sem paciência. Perdi a conta de quantas vezes fui criticado na frente de outras pessoas ou por e-mail, mesmo eu estando certo. Ele sempre precisa passar por “quem sabe de tudo”, quando, na verdade, se não fosse por sua equipe, ele não conseguiria fazer nada.
Assim que começou a pandemia eu já estava num nível de insatisfação com ele tão grande que desanimava meu empenho no trabalho. Cara, eu estou cansado de ouvir críticas, piadinhas, de ser chamado atenção por coisas banais e sem o mínimo respeito ao meu trabalho e a minha pessoa. O clima na empresa é ruim, depois que implantou o trabalho remoto tudo piorou porque a gente vive numa pressão esperando pra saber quais serão as próximas atividades apontadas como péssimas.
Desde agosto o domingo passou a ser o pior dia da semana porque me lembra o encontro com o Marco na segunda. Você acredita que ele exige que a gente deixe a câmera ligada pra saber se estamos trabalhando ou não. Eu não aguentava mais isso… Já me arrumava pro trabalho chorando e me questionando até quando eu iria aguentar.
Por conta disso tudo eu fui num psicólogo por orientação de minha esposa. Na verdade, eu não achava que precisava, mas fui pra não criar mais problemas em casa, já chega meu desânimo que tem impactado em tudo, até na vida sexual. Desde o início do acompanhamento o psicólogo sinalizou meus pensamentos negativos e o desânimo que eu estava sentindo. Ele me orientou consultar um psiquiatra também porque a terapia medicamentosa poderia ser necessária. Hoje eu estou sendo acompanhado pelos dois profissionais, pelo psicólogo e pelo psiquiatra, e as coisas estão caminhando, ainda não resolvidas, mas há uma luz no fim do túnel.
Na terapia eu tenho refletido sobre minha insatisfação com o trabalho e minha contribuição pra manutenção dessa experiência em minha vida. Tem sido um exercício diferente. De verdade, eu só conseguia enxergar culpa do Marco, mas hoje tenho aceitado algumas pontuações do psicólogo que faz todo sentido.
Desde o início da terapia percebi o quanto eu guardada pensamentos negativos pra mim. Parece que eu fui me afogando nesse lamaçal de pensamentos que me puxavam cada vez mais pra baixo. Perceber essas coisas não é fácil, é um exercício diário que exige bastante atenção e investimento. No começo eu pensei que a terapia seria somente desabado e hoje penso de forma diferente. Até tem desabafo também, mas a gente aprende mais coisas lá.
Então eu tenho selecionado esses pensamentos, tenho refletido sobre as críticas, sabendo distinguir melhor o que é culpa do Marco e o que é minha responsabilidade, além de compreender o que sinto. Nunca pensei que fosse tão interessante fechar os olhos e voltar a pensar sobre meu primeiro trabalho. Cara, eu pensava que isso não me serviria de nada, mas eu estava errado. As coisas estão fluindo e agora, pelo menos, eu sinto esperança…
Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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