Minha vida parecia ter perdido o sentido ao ouvir do Isaque que ele queria mudar de país. Eu sempre soube que seu grande sonho era morar fora do Brasil, eu só não contava que ele ia conseguir isso algum dia. Agora, ele quer saber se eu vou também. Me chamo Nádia, tenho 42 anos, trabalho como analista financeira, e vou contar pra vocês como foi viver este momento.
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– Oi.
– Oi, amor…
– A gente precisa conversar novamente sobre aquele assunto de sexta. Eu sei que é chato, mas é importante.
– Me dá mais um tempo, não sei se estou pronta, me dá mais um tempo pra pensar.
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Eu não estou pronta pra tomar uma decisão. Isaque quer que eu decida logo o que farei, mas não é algo tão simples como ele pensa. Não resolvo as coisas na mesma velocidade e também vivo questões pessoais que me colocam em dúvida sobre isso.
Eu e Isaque namoramos há 8 anos. Estamos juntos desde os meus 34 anos e nossa relação sempre foi muito boa. Eu demorei encontrar alguém como ele. Me sinto feliz. Eu tenho paz em acordar ao seu lado e poder falar sobre minhas angústias, meus medos, minhas aflições. Ele demonstra gostar de tudo isso. É bom viver essa relação.
Passamos a morar juntos depois de 05 anos de namoro, então somos meio que “casados”. Foi uma decisão conjunta e acertada, ambos estávamos passando por um momento financeiro delicado e escolhemos essa opção como uma saída pra resolvermos o problema.
Isaque é fisioterapeuta, ele tem um estúdio de pilates e vive disso há anos. É bem sucedido na carreira, tem muitos clientes, já participou de programas de TV pra falar sobre sua profissão e tal. Tenho muito orgulho dele. Além disso, ele tem doutorado também, dá aula numa faculdade particular próxima aqui de casa. Eu acho muito sexy essa mistura de cuidado físico com inteligência e ele é assim.
Essa mudança chegou num momento em que eu não acreditava que ela iria surgir. Ele já tinha tentando várias vezes alguma coisa lá fora e nada, isso me pegou de surpresa. Eu fiquei muito feliz pela notícia, sabia que era seu sonho e eu dei todo meu apoio sempre. Acontece, que neste momento eu cuido de minha vó que está doente e ela só tem a mim e a minha irmã, e isso torna essa mudança muito difícil pra mim.
Me sinto péssima de deixar minha vó com minha irmã sozinha. Não é justo com ela porque tem meus sobrinhos e também meu cunhado. Ela tem toda uma vida pra dar conta e ainda tem minha vó. Aqui a gente se ajuda, eu cuido ela cuida e assim os cuidados ficam mais leves pra gente. Do outro lado, no caso do Isaque, sinto-me a pior pessoa do mundo ao colocar essa barreira pra ele. Imagina você sonhar com algo, estudar, dar o seu melhor e quando consegue sua companheira (o) diz que talvez não possa te acompanhar. Não é algo fácil…
Pra piorar as coisas, ele colocou a questão quase como se fosse um xeque-mate. Ele não me deu opções, simplesmente contou da oportunidade e me falou a data da viagem. Isso soou pra mim como uma despedida, como se eu estivesse sendo deixada pra trás. Claro que ele falou sobre querer me levar, mas ficou algo no ar do tipo: “vai se você quiser…” e isso significa muito pra mim, porque há anos vivo pra nossa relação e num momento complexo como este em que minha avó está doente ele simplesmente se vai.
Tenho pensado sobre isso. Tenho sentido angústias e estado mais confusa que adolescente em época de vestibular. Pra mim ele deixou claro que eu posso ir ou não e aqui está o xis da questão pra minha dúvida. Ahhhh, quanta coisa passa pela minha cabeça. Que difícil isso tudo.
Fui parar na terapia a espera de conseguir alguma resposta, tem me ajudado. Hoje é terça, eu estive com o psicoterapeuta ontem e agora há pouco o Isaque me cobrou por mensagem falarmos novamente no assunto. Não consigo ter certeza de nada agora, só consigo pensar nele dizendo que prefere um trabalho à mim. E se assim for, o melhor mesmo é eu seguir com minha vida sem ele.
Eu penso que nós temos uma vida juntos e ele vai seguir o sonho dele. Mas a nossa vida é aqui, ele quer seguir sem mim.
Quantas vezes eu já fui deixada por alguém… Foram muitas. Eu não conto pra não me assustar. Quando ouvi dele sobre a mudança pensei que novamente estava sendo deixada, de novo eu teria que começar do zero.
Eu vou postergar essa conversa por pelo menos uma semana, mas não vai ter jeito, teremos que nos falar pra esclarecer as coisas. Preciso ouvi-lo, mas também preciso desabafar. Não quero me sentir deixada pra trás. Se ele desejar seguir seu sonho ao invés de ficar aqui comigo eu o deixarei, porque é melhor deixar ir quem não quer ficar.
Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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