Era mais um dia de terapia e o paciente vinha evoluindo, melhorando da depressão. Nosso último encontro tinha sido muito produtivo, ele saiu sorridente, confiante e esperançoso de que as coisas poderiam mudar e ele estava engajado a continuar seu processo de mudança.
Por orientação minha buscou ajuda de um psiquiatra que prescreveu medicações necessárias para o tratamento. Então, fazia 2 meses que ele já estava sendo acompanhado pelo que há de melhor no tratamento da depressão, que é a psicoterapia e o uso de medicamento psiquiátrico. Os resultados aos poucos foram aparecendo, e isso era notório pela mudança no humor dele que foi deixando de ser disfórico para tornar-se mais equilibrado.
Mas, na última sessão algo estava diferente, ele chegou ao consultório cabisbaixo, desanimado e muito abatido. Logo que eu abri a porta o percebi diferente, antes mesmo de ele me cumprimentar. O espaço entre a porta e o sofá pareceu uma eternidade e fui percebendo como estava diferente de todas as sessões anteriores. Vários detalhes me mostravam as diferenças, mas alguns eram simples, porém significativos, como o fato de ele não ter bebido água antes de se sentar, isso nunca havia acontecido e falava pra mim que ele estava ansioso por desabafar.
Não precisei perguntar como ele estava, logo que sentou já desabou e disse em alto tom: “EU ESTOU COM VERGONHA DE FALAR ISSO, MAS DE NOVO ESTOU PENSANDO EM ME MATAR”. Assim que ouvi isso percebi que minha percepção estava correta e algo havia acontecido durante a semana. Conversamos por algum tempo sobre esses pensamentos e em momento algum o julguei por isso, até que depois de algum tempo ele disse ter sido despedido do emprego.
Essa notícia pra ele veio num momento muito ruim. Chegou mesmo de forma abrupta e devastadora, mostrando na mente o peso da responsabilidade que ele carregava por ser o provedor da família. Em decorrência disso novamente a desesperança assolou. De novo ele pensou que a vida já não tinha mais sentido. Eram muitos pensamentos confirmando que ele jamais realizaria seus sonhos.
Depois de algum tempo trabalhando os pensamentos negativistas e catastróficos que ele tinha, mais uma porrada da vida o fez desanimar. Agora mais do que nunca o processo precisa continuar, porque é importante estar bem consigo mesmo pra ter forças pra seguir a caminhada da vida.
Apesar de toda dificuldade, todo medo e anseio que o momento proporciona, ele veio novamente pra sessão. O que pensar dele após isso: “De fato é um guerreiro”. Ele não desistiu e isso reafirma pra mim a importância de continuar com ele nessa caminhada dolorida e conturbada chamada vida.
Para finalizar, é importante pensarmos o quanto o desemprego pode contribuir para o adoecimento, porque ele é um problema social que afeta no íntimo das pessoas. Quando alguém passa pela experiência do desemprego rumina um enxurrada de pensamentos que o faz se sentir triste, desanimado, desesperançoso, e por algum tempo não vê muita saída. Muitos não encaram assim, mas política de trabalho e renda também auxilia na promoção da saúde mental. Além disso, lembre-se também que os homens adoecem, apesar de eles se fazerem de forte a maior parte do tempo…
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