Sou muito crítico quando o assunto é Psicologia e Religião. Quem me conhece de verdade sabe que esse é um tema ao qual eu estou sempre com o pé atrás, sobretudo porque percebo muita gente confundindo essas duas práticas, incluindo aí muitos profissionais psi’s. No entanto, num momento tão complexo como este que vivemos, em que o mundo passa por uma experiência bastante transformadora, eu penso: Qual o lugar da fé? Ela pode ser uma aliada? Neste texto reflito um pouco sobre isso…
A fé é uma experiência universal do homem que de tão complexa é até difícil explicar. A fé não se encaixa em religiões, ela é muito mais que isso. Ela é um ato de conexão com algo superior, com o que sentimos no nosso íntimo, com uma força que nos dá ânimo frente às adversidades.
O Ser humano de modo geral está sempre acreditando e o tempo todo projetando o futuro, faz planos e isso se expressa como um movimento de fé. Planejar é um ato de fé, porque você se organiza pra algo que ainda não existe, portanto significa crer no que poderá ser e não no que é.
Todo mundo acredita em alguma coisa, seja ela material ou não. Não existe alguém nessa terra que não crê em algo, simplesmente não existe. As pessoas que se dizem ateias acreditam que deus não existe e isso pra mim é uma realidade de fé. É acreditar numa verdade, em sua hipótese para o que seja a vida e o mundo e, consequentemente, se baseia na ciência, em sua experiência pessoal, etc.
Então, a mente humana acredita sempre em algo, ela se estrutura por verdades armazenadas que constroem sua noção de “Eu” e a percepção sobre as demais coisas na vida. Todas as “verdades” que você defende são crenças, é um processo de acreditar numa hipótese, é crer numa verdade, sacou?
Então, essa mente humana que se estrutura pelo acreditar pode ter a potência de crer em experiências difíceis de se explicar, como as ditas espirituais por exemplo. Neste sentido, e não entrando no mérito de julgamento dessas experiências, mas encarando-as como praticas naturais para a humanidade, posso entender que vivê-las têm algum sentido subjetivamente. Para muitas pessoas o sentido da vida só existe quando atrelado à práticas de fé.
Assim, a fé pode ser então um exercício benéfico do ponto de vista psicológico, para vivermos momentos de profunda tristeza ou incerteza. Ela pode contribuir para que produzamos pensamentos positivos ou adaptativos para o momento. Ela ajuda a dar sentido para todas as experiências, até mesmo as mais complexas como o que estamos vivendo.
Nesse sentido, pensar adaptativamente projeta em nós o sentimento de esperança e é isso que nos ajuda a superar os desafios e as dificuldades. Uma pessoa esperançosa é alguém que tem fé, ela acredita na existência de possibilidades, que o futuro pode surpreendê-la, ou até mesmo confia no tanto de aprendizado que terá em todas as circunstâncias.
Sem fé ficamos sem esperança e a falta de esperança nos leva à pensamentos de “dar cabo a vida”. Quantas pessoas dão fim a própria vida por não ver mais sentido, por não encontrar alternativas, por não suportar mais uma dor. Muitas delas não têm mais fé, não carrega consiga essa esperança que nossos pensamentos adaptativos podem produzir.
Dar vazão a fé em momentos de dificuldades pode transformar a realidade porque a mente se beneficia do sentimento de esperança. Ela crê no invisível, naquilo que não pode ser explicado, nas análises racionais, nos acasos, nas possibilidades. A fé que produz esperança é uma aliada da vida psicológica porque sem ela perdemos a vontade de viver.
Nós só nos mantemos vivos porque acreditamos que o amanhã será possível, apesar de tudo. É disso que precisamos neste momento, acreditar que apesar de todo mal que assola o mundo ainda assim haverá mudanças, possibilidades, haverá saídas. Então, creia, acredite, reze, ore, pague preces, faça o que você sentir que deve ser feito pra te conectar com a esperança de dias melhores.
E cuide de sua mente, quando ela está bem você consegue organizar as ideias e assim enxergar esperança em meio ao caos…