Muito se fala no dia a dia sobre a depressão, mas a maioria das pessoas tem opiniões e disseminam, muitas vezes, dados equivocados sobre a doença . Você sabe o que é depressão?
Depressão é uma doença que atinge uma a cada seis pessoas no decorrer da vida. Ela é uma doença, assim como a diabetes, o câncer, a gripe, e tantas outras doenças físicas que conhecemos, por isso, não pode ser entendida como sendo frescura, preguiça, loucura e muito menos como comportamento irresponsável de quem passa por um estado depressivo.
De modo geral, quem sofre de depressão vive em sofrimento constante, através de uma tristeza profunda que é característica marcante. Abrimos um parêntese aqui para explicar que a tristeza em si não é uma psicopatologia (doença), pois ela é uma emoção humana, faz parte das emoções básicas que temos, assim como a alegria, repugnância, raiva, dentre outras. Ou seja, a tristeza é, de fato, um estado emocional normal da nossa vida psicológica e se diferencia do estado depressivo que se constitui de uma tristeza profunda considerada patológica.
Para reforçar a ideia acima, responda a seguinte pergunta: Você já se sentiu triste por alguma coisa que aconteceu indesejadamente ou pela perda de um amigo ou familiar? Tenho certeza que a reposta é sim. Isso acontece porque todos nós sentimos e sentiremos tristeza no decorrer da vida, entretanto, o que irá distinguir tristeza de depressão, geralmente, é o tempo de duração e demais sintomas adjacentes ao estado emocional. A tristeza no sentido emocional normalmente é curta, enquanto que a depressão pode durar meses e até anos.
🔶Sintomas:
É interessante a discussão acima sobre tristeza e depressão porque alguns pacientes relatam não se sentirem tristes propriamente dito, mas sim, como se a vida tivesse perdido sentido, por isso, “não conseguem ver graça em nada na vida“. É como se eles vissem somente fotos em preto e branco enquanto as demais pessoas enxergam colorido. Além da tristeza profunda, as pessoas que sofrem de depressão ficam “desmotivadas, sem ânimo“, inclusive, todas as atividades que antes eram tidas como divertidas passam então a não ter sentido algum para elas.
O processamento mental em pacientes depressivos segue um modelo padrão tendencioso (erro cognitivo) de modo a “negativar a vida“ e as experiências do dia a dia. É comum a presença de pensamentos catastróficos que faz a pessoa acreditar que tudo dará errado em todos os sentidos (vida financeira, sentimental, social, saúde, etc.) e também é comum pensarem muito em morte.
Outro sintoma também presente em pacientes depressivos é o “mau humor”, neste caso, tornando difícil o convívio entre a família e amigos, que são de extrema importância para reabilitação do deprimido. Um paciente deprimido também pode apresentar “mudanças bruscas de personalidade“, assim, um jovem com atitude extrovertida da noite para o dia ou no decorrer dos meses tornar-se introvertido. Isso o marcaria então através de novos comportamentos, como ficar mais quieto, reflexivo (por isso talvez a fase pessimista), retraído e etc.
Pessoas deprimidas também podem ter “dificuldades em manter o peso“ e, por isso, ficarem no famoso efeito sanfona (engordando e emagrecendo).
Percebam que não existe apenas um sintoma, mas sim vários, e cada paciente acaba experimentando alguns eles e nem sempre todos, ou seja, é bastante subjetivo. Essa característica transforma o psicodiagnóstico mais complexo do se imagina e o psicólogo para realizá-lo corretamente precisa acompanhar o paciente e não fazê-lo precipitadamente.
🔶 Impactos:
No que tange à vida profissional, muitas pessoas que sofrem de depressão são “demitidas do trabalho ou até pedem demissão“, mas, a maioria, se quer se percebem depressivas. Muitos entram no processo de adoecimento e não conseguem se identificar assim. Pessoas próximas, apesar de verem as mudanças no comportamento, também demoram compreender e aceitar como sendo uma doença. Outro impacto na vida profissional, é a “troca de profissão no decorrer da vida”, pois se tudo é encarado com valor negativo, constantemente se busca por algo novo na expectativa de que em outro lugar aquela sensação vá se esvaziar.
O padrão de pensamento marcado pela negativação e catastrofização das experiência, acaba impactando muito a vida do paciente, inclusive, a profissional, pois muitas habilidades acabam por se tornarem difíceis de serem colocadas em prática, como a capacidade para tomar decisão por exemplo.
Na vida pessoal podemos dizer que a depressão também é impulsionadora de muitos “divórcios e términos de relacionamentos”, afinal, vivemos o tempo das relações líquidas, conceito criado por Baumam. Isso acontece porque com o passar do tempo as pessoas acabam se cansando do comportamento de quem é depressivo e algumas decidem não conviver mais com ela. Quando o paciente inicia atendimento psicológico e médico, normalmente acontece de as pessoas próximas se solidarizarem e ocorrer menos impacto nas relações.
🔶 Incidência:
As mulheres são consideradas um grupo de predileção para a doença e dois fatores são responsáveis por esse indicador que são os fatores hormonais e psicossociais. No entanto, é preciso esclarecer que esse dado pode não fidedigno, pois as mulheres costumam procurar ajudar com mais facilidade, logo, essas estáticas podem não representar a realidade.
A depressão para o homem, assim como muitas doenças, é uma questão de tabu, ou seja, muitos homens mesmo sentindo diversos sintomas não procuram tratamento médico ou psicológico, deixando que o problema se desenvolva e até piore. É comum encontrarmos homens com características de depressão e demais doenças da mente como TOC, ansiedade, dentre outras. Inclusive, muitas profissões mais presentes no universo masculino contribuem para essa questão, como é o caso de cargos executivos, motoristas de ônibus, profissional de segurança pública e tecnologia da informação.
Os adolescentes e jovens são um grupo de risco para as doenças emocionais e psíquicas. Devido a transição nessa fase da vida, muitos se sentem pressionados e sem maturidade suficiente para encarar os desafios desenvolvem a doença.
🔶Motivos para o surgimento da doença:
A depressão é desenvolvida de acordo com fatores “psicológicos, genéticos e ambientais”
Pessoas que possuem familiares portadores da doença tem mais chance de desenvolvê-la em comparação com aqueles que não têm. Além disso, o modo de vida também pode influenciar e ser um fator encadeador. Por exemplo, um morador de um centro urbano tem mais chance de desenvolver a doença em comparação ao que mora na zona rural.
Durante muito tempo pesquisadores pensavam que a depressão, biologicamente, se desenvolvia porque o indivíduo estava com pouca quantidade de substância responsável pelas engrenagens do nosso cérebro chamadas neurotransmissores. São considerados os neurotransmissores mais importantes em relação à depressão: serotonina, noradrenalina e a dopamina.
Pesquisas recentes apontam que não é a quantidade de substância que faz uma pessoa desenvolver a depressão e sim que os neurônios não estão recebendo as químicas de forma adequada. Descobriram também, que essas substâncias trabalham na parte de fora dos neurônios, mas que existe a parte interna e é essa quem responde pelo desenvolvimento da depressão.
Psicologicamente, os padrões de pensamentos já mencionados neste texto podem ser eliciadores da doença, isso porquê, a forma como pensamos impacta diretamente nos sentimentos que temos e consequentemente em nosso comportamento.
🔶 Formas de tratamento:
O tratamento para a depressão é feito a base de terapia com psicólogo e com medicamentos prescritos pelo médico.
A psicoterapia auxilia o paciente a reconhecer padrões de pensamentos, crenças e esquemas mentais que podem estar eliciando a tristeza profunda e impactando o comportamento. O papel do psicólogo não é ensinar ao paciente pensar positivamente, mas sim, conhecer seus pensamentos e assim identificar possíveis erros cognitivos que estejam contribuindo para o adoecimento. Não se trata de um trabalho rápido, mas necessário para efetivamente o paciente conseguir mudar seu modelo mental.
O atendimento médico é realizado pelo psiquiatra que usa medicação para regular as substâncias químicas do cérebro (neurotransmissores). No entanto, devido aos efeitos colaterais dos medicamentos, eles devem ser utilizados apenas em casos graves da doença, quando a psicoterapia com psicólogo sozinha não estiver conseguindo alterar as substâncias que reduzem os sintomas e o sofrimento.
Com tratamento adequado muitos pacientes conseguem superar a depressão, mas há consenso na comunidade científica de que não existe cura pra depressão, mas sim acompanhamento profissional pra remissão dos sintomas, ou seja, controle dos sintomas pra proporcionar mais bem-estar ao longo da vida.
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Fontes:
MAGALHAES, Naiara, CAMARGO, Alberto. Não é coisa da sua cabeça. Belo Horizonte: Ed. Gutenberg, 2012.
Site: http://drauziovarella.com.br/?s=depress%C3%A3o – acessado 05/01/2014