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Uns meses atrás quando ainda podíamos ir e vir saindo da sessão da minha terapia estava eu em altas reflexões de como tinha sido a  sessão daquele dia,  e viajava no meu mundo interior, porém as pessoas passavam por mim, eu por elas, disputávamos espaços nas calçadas com os trabalhadores informais e me dei conta de como nós corremos tanto no dia a dia. Eu por, exemplo, naquele dia já tinha ido a uma consulta de rotina no meu médico, fiz minha sessão de análise e saindo dali ainda estaria atendendo no consultório e só chegaria em casa depois das 21h. Mas, como nada é por acaso, as sincronicidades estão aí para provar isso, avisto na frente de um banco uma pequena discussão que me chamou atenção.

“Uma mulher negra, aparentemente de menos de 40 anos de idade, sentada em frente a um banco segurando um cachorro de médio porte, o dia estava quente e provavelmente ela buscou um local onde pudesse se refrescar. Mas não foi isso que me chamou a atenção, confesso. E isso faz pensar também em quantos de nós já não nos acostumamos a ver pessoas em situação de rua como invisíveis pelas calçadas?”

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Diante daquela mulher negra com o cachorro no colo havia  uma senhora conversando em um tom mais alto que o necessário, ao mesmo tempo que ela falava, tentava pegar o cachorro dos braços da outra. Sai do meu mundinho e diminui meus passos para saber o que rolava ali e, não pro meu espanto, percebi que o diálogo se dava na tentativa preocupada de que o cachorro não tinha condições de ser dela, já que podia estar com fome e sede.

A senhora em pé, o que já configura uma postura altiva diante de uma pessoa em situação de rua, interpelava insistentemente a mulher “mas, ele já comeu?”, “ele tem ração?”… A multidão e eu ali como parte dela observava apenas.

Voltei pro meu mundinho e me perguntei “porquê não vou até lá? [Pensei…] “o que eu poderia falar para aquela senhora preocupada com o cachorro?”. Eu sinceramente acho os animais anjos que nos proporcionam afetos sem cobrar muito (mesmo dando trabalho), inclusive adotei uma gatinha de rua, é o xodó da casa.

“Mas enquanto psicóloga, me preocupo não apenas em compreender os processos psíquicos que nos adoecem como também a entender os processos sociais a que estamos inseridos. E um movimento que me chama bastante atenção é o fato de animais domésticos receberem mais atenção e cuidado do que os próprios familiares em algumas casas, é ver como as relações humanas perderam vínculos e em como os animais ganharam pais, irmãos, festas e tantos mimos.”

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Veja bem, não vejo nada de errado em mimar nossos mascotes, mas, diante da cena que me deparei, ouvi e vi a preocupação daquela mulher em saber se o cão havia comido e ignorar que também ela estava diante de um ser humano que podia estar na mesma situação que o cachorro, e ignorar completamente, foi aí que me perguntei: aonde foi que nós perdemos?

Talvez tenhamos parado no momento que fomos traídos pelos parceiros (a), talvez quando esperávamos uma atitude daquela amiga (o) e recebemos outra, talvez quando fomos deixados de lado por alguém ou nos sentimos usados como objetos e depois descartados. Talvez foi exatamente no momento onde você sentiu muita dor e buscou apoio nessas relações e não encontrou.

Lidar com seres humanos nunca vai ser fácil. Nossos bichinhos não falam, são submissos aos nossos comandos, por isso a relação se torna apenas mais fácil e não a mais autêntica, justa.

Pense nisso!

Iranir Fernandes
Iranir Fernandes
Iranir Fernandes ψ - Psicóloga (CRP 05/54281), Palestrante, Escritora e Pós Graduanda em Psicologia Junguiana. Tem experiência de atendimento individual, casal e orientação de família. Trabalha com a abordagem Analítica de Carl Gustav Jung em atendimentos presenciais (Rio de Janeiro) e Online. Coautora do livro "A mulher negra e suas transições".

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