Hoje em dia é muito comum a procura por serviços rápidos e com garantia de resultado. Assim, independente do que se está vivendo, a maioria das pessoas desejam alívio para as problemáticas da vida e no menor tempo possível.
Em saúde mental essa procura também existe e a identificamos quando ouvimos discursos enfáticos de que o tratamento medicamentoso é mais indicado para tratar adoecimento mental quando, na verdade, eles precisam de intervenção medicamentosa e psicoterapêutica, ou seja, necessitam de um trabalho conjunto.
Nós psicólogos não nos espantamos quando ouvimos esse tipo de argumento. Em primeiro lugar, compreendemos quem divulga que o tratamento medicamentoso é mais eficaz, porque ele vai ao encontro desse anseio contemporâneo de que tudo se resolve rápido, ao passo que a psicoterapia, apesar de ser um tratamento natural, necessita de maior tempo e envolvimento do paciente/cliente. Além disso, também existem muitos profissionais da medicina, aqui, no caso, os psiquiatras, que por uma questão de desconhecimento mesmo, porque são médicos e não psicólogos, acabam sustentando esse discurso.
Em contrapartida, encontramos pesquisas recentes mostrando que os remédios, apesar de contribuírem muito para a redução dos sintomas depressivos, possuem um percentual alto de recaídas e insucesso no tratamento, ou seja, existem pessoas que não sentem diferença ao longo do tratamento medicamentoso. Além disso, contrariando esse discurso do tratamento medicamentoso, há pesquisas comparando e apontando a equivalência dos resultados da psicoterapia e dos psicofármacos (Beck, Young, Righ, Weinberger, 2016), ou seja, ambas as formas de tratamento são eficazes.
Quanto ao tratamento da Depressão, especificamente, o médico psiquiatra Breno Serson (2007), propõe que ele deve ser realizado a partir do tripé: Psicoterapia (como as realizadas por psicólogos), Farmacoterapia (remédios psiquiátricos), e medidas gerais de promoção e harmonização da saúde física e mental. Ele enfatiza que normalmente o tratamento dos transtornos depressivos acabam sendo realizados de forma isolada, ou seja, muitos pacientes fazem uso apenas da psicoterapia, enquanto que outros se utilizam apenas dos psicofármacos (remédios) e há possibilidade de resultados melhores quando o paciente é acompanhado pelo tripé, pois o tratamento torna-se mais completo e possibilita mudanças profundas de longo prazo, inclusive cuidando para que o paciente não sofra com recaídas de dependências, crises psicológicas, etc.
Ademais, como na atualidade o ser humano é compreendido a partir das dimensões biológicas, psicológicas e sociais, compreendemos que apenas um modo de tratamento pode não alcançar todas as pessoas (Souza, 1999), por isso a orientação desse tripé acaba por se tornar excelência de cuidado no tratamento da mente. Sendo assim, seguindo a sugestão de Serson (2007), os medicamentos se ocupam de suprir as necessidades orgânicas que o corpo necessita, a psicoterapia auxilia na organização dos pensamentos e das emoções e as medidas gerais de harmonização da vida auxilia o paciente rever e estruturar a vida de forma que possibilite mudanças de hábitos danosos e a diminuição do uso de substâncias (medicamentos).
No dia a dia encontramos muitos pacientes como estes apontados na pesquisa. Eu mesmo já atendi um paciente que tentou tratar TAG com 11 medicações e não se adaptou a nenhuma delas. Entenda uma coisa: não estou dizendo para deixar de tomar medicações psiquiátricas, tampouco dizendo que elas são dispensáveis, não é isso. Estamos esclarecendo que o tratamento para o adoecimento da mente deve ser pensado de forma mais ampla e que medicamento não resolve problemas da vida, apenas reduz sintomas.
Seria muito bom se agente conseguisse ir na farmácia comprar amor próprio, auto-estima, bom humor, pensamentos organizados, menos problemas familiares, diminuição da dor de um luto, um relacionamento amoroso mais feliz, uma profissão menos cansativa, etc. Perceba que os remédios cumprem seu papel no tratamento orgânico, mas não ajuda a organizar a vida e equilibrar nossa experiência psicológica, por isso é necessário que o tratamento seja realizado por psicólogo e psiquiatra para que o resultado seja mais promissor.
Obs. Não Esqueça!
> Um bom psiquiatra é aquele que sabe o momento certo de encaminhar seus pacientes ao psicólogo. Um mau psiquiatra é aquele que acha que resolve tudo sozinho.
Um bom psicólogo é aquele que sabe o momento certo de encaminhar seus pacientes ao psiquiatra. Um mau psicólogo é aquele que acha que resolve tudo sozinho.
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Referências:
BECK Aaron, YOUNG Jeffrey, RIGH Jayne, WEINBERGER, Arthur. Terapia Cognitiva para Depressão. In: BARLOW, David H. (Org.). Manual clínico dos transtornos psicológicos. 5 ed. Porto Alegre: Artmed, 2016.
SOUZA, Fábio Gomes de Matos e. Tratamento da depressão. Rev. Bras. Psiquiatr., São Paulo , v. 21, supl. 1, p. 18-23, May 1999 . Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1516-44461999000500005&lng=en&nrm=iso>.
SERSON, B. Integrando farmacoterapia à psicoterapia e a medidas gerais no tratamento dos quadros ansiosodepressivos. Revista da SPAGESP – Sociedade de Psicoterapias Analíticas Grupais do Estado de São Paulo Jul.-Dez. 2007, Vol. 8, No. 2, pp. 23-32.
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