Há dois anos minha esposa disse que estava cansada do nosso casamento. Ela dizia me amar, mas não suportava mais meu jeito bronco de ser. Meu nome é Paulo Cesar, eu tenho 52 anos e hoje eu vou contar pra vocês como eu dei a volta por cima e consegui reerguer meu casamento.
Em novembro de 2018, logo após as eleições presidenciais aqui no Brasil, eu e minha esposa tivemos uma conversa marcante pra mim. Ela me pegou de surpresa em pleno café da manhã, sem que eu suspeitasse de nada. Nós temos dois filhos e neste dia eles haviam dormido na casa da minha irmã, então nos estávamos sozinhos em casa. Depois de uma noite em que eu tentei me aproximar pra namorar e fui rejeitado, assim que sentamos na mesa pra tomar o café, ela disse:
– Paulo, eu pensei bastante nisso que vou te falar, mas não dá mais pra adiar. Eu não me sinto mais feliz em nosso casamento, você sempre me trata muito mal, eu quero o divórcio.
Ouvir aquela frase foi como tomar um soco no estômago. Eu não consegui demonstrar reação alguma na hora, simplesmente levantei, tomei banho, me vesti e fui trabalhar.
Embora minha reação tenha sido péssima, eu nunca me comporto de forma diferente quando o assunto envolve sentimento. A verdade é que eu nunca soube lidar com eles, por isso, na maioria das vezes, era rude com as pessoas próximas à mim. Eu sempre coloquei tudo pra debaixo do tapete e assim segui até quando deu… no caso, até quando minha esposa me dei aquele xeque-mate.
Naquele dia eu simplesmente não consegui trabalhar. Minha cabeça parecia girar o tempo todo. Era um imbróglio de muitas coisas dentro de mim. Ao mesmo tempo que dava vontade de chegar em casa demonstrando raiva, questionando se ela tinha outro e que eu não desejava mais, ao mesmo tempo, eu sentia uma vontade enorme de pedir desculpas, de dizer que à amava e precisava dela. Apesar de ter essas duas opções rondando minha cabeça, como de costume, eu cheguei em casa sendo rude, agressivo, falando tudo o que sentia, porém despejando toda vulnerabilidade do momento com palavras de muito raiva e ódio. Infelizmente não deu outra, ela se sentiu pior, disse que era por conta daquilo tudo não desejava mais e eu me desesperei.
Pra pensar sobre tudo eu dormi na sala. Meus filhos não entenderam nada, mas também não questionaram e nós não comentamos sobre o clima do momento. Quando amanheceu eu não vi outra saída a não ser mostrar pra ela o quanto aquela decisão parecia um fim pra minha vida. Era uma atitude de desespero e ao mesmo tempo de humilhação para a pessoa que eu era. Eu implorei… chorei… pedi pra não acabarmos com os 18 anos que tínhamos juntos.
Ao me ouvir a Silvia chorou também. Ela disse que me amava, mas não suportava mais ser tratada com indiferença, com agressividade, de ter ignorado seu cansaço físico e muitas outras coisas. Ela disse que pensava que eu a via como uma mulher guerreira, como se ela suportasse tudo como uma super heroína, como se ela fosse literalmente uma mulher maravilha, mas ela não era, ela estava cansada, machucada e eu não percebia isso.
Ainda nesta conversa eu não conseguia perceber e acreditar que eu era assim e ela colocou como exigência pra mantermos a relação que eu procurasse uma ajuda profissional. Foi assim que eu comecei a fazer terapia.
De lá pra cá eu venho conhecendo mais de mim. Aprendi a dar vazão para meus sentimentos e emoções, a ser mais assertivo com as palavras, a me responsabilizar pelo bem-estar da minha família, a valorizar quem eu amo. Eu tenho revisitado minha história desde então e descoberto o quanto eu reproduzia e ainda reproduzo a história de meus pais e eu precisava me desprender disso pra me tornar alguém melhor e ser mais feliz.
Hoje eu tenho conseguido caminhar sendo eu mesmo, meus sentimentos funcionam como meus companheiros de vida e não como pessoas distantes… além da terapia hoje eu tenho praticado até meditação.
Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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