Eu e o Juninho nos conhecemos na escola infantil, a gente tinha apenas cinco anos. Quando ele me avisou pelo whatsapp que tinha se contaminado com covid meu coração gelou. Me chamo Frederico, tenho 39 anos, e vou contar pra vocês como foi difícil perder meu melhor amigo pra essa doença.
Quando a pandemia do covid-19 chegou ao Brasil, eu não imaginei que tomaria essa proporção toda. Lembro de ver pela televisão a situação da Europa, na Itália especificamente, e pensar que até chegar aqui as coisas já estariam controladas. Lembrava também da epidemia do Ebola em 2013, e o fato dela não ter se expandido me deixou confortável de nunca ter vivenciado nada disso por aqui. Mas tudo foi diferente dessa vez e o vírus maldito chegou até duas pessoas próximas, uma foi meu primo e a outra o meu melhor amigo Juninho.
Eu tenho sofrido demais por essas duas perdas, mas a partida do meu amigo me colocou no chão, porque nós éramos parceiros há muito tempo. Não foram 34 dias ou 34 meses de amizade, a gente convivia há 34 anos, foi uma vida toda.
Sabe a pessoa que está contigo em todas as merdas da vida? Juninho sabia todos os meus podres e eu sabia tudo dele também. Sua primeira namorada foi minha irmã e eu torcia pra eles darem certo e a gente ficar sendo família. Infelizmente não deu, eles namoraram por uns 05 anos e depois romperam.
Ele vinha de uma família mais humilde que a minha, enquanto eu pude ingressar na faculdade e me forma em direito, ele foi trabalhar depois do ensino médio e já tinha feito de tudo na vida até se fixar como técnico de Raio-x. Quando partiu estava trabalhando há uns 09 meses num hospital aqui em Chapecó-SC, isso desde julho de 2019.
O cara lutou tanto pra conseguir terminar aquele curso, depois foi outra luta pra conseguir uma vaga no hospital e veio a pandemia e estragou tudo. Estava vivendo um dos momentos mais incríveis da vida profissional, tinha acabado de comprar um carro que era seu xodó. Nem curtiu direito, praticamente nem rodou com o carro, pois ficou com ele somente seis meses.
Meu amigo se contaminou com covid trabalhando no hospital. Ele tinha muito medo de pegar essa doença, dormiu vários dias no carro pra evitar contaminar os avós em casa. Sempre foi um cara comprometido, não faltava ao trabalho e fazia o que podia pra atender bem as pessoas.
Em nossa última conversa antes de ele ficar internado pediu pra eu me cuidar, enfatizou que tomou todos os cuidados necessários, mas por estar exposto no hospital acabou se contaminando. Nessa hora eu ainda tinha esperança de sua recuperação, porque muitas pessoas conseguem, infelizmente ele não teve essa sorte. Depois de 10 dias internado ele piorou, foi entubado e não nos vimos mais.
Meu amigo não teve velório. Não parece que meu amigo morreu, a sensação é de que ele sumiu. Eu nunca mais o vi…
É uma dor tão grande que não tem explicação. Eu não pude me despedir, não pude segurar sua mão nos momentos finais. Não pudemos tranquilizá-lo de que estávamos rezando por ele.
Eu pensei que a gente ia beber umas geladas até ficarmos velhos. Agora só me resta esse vazio tosco. Esse sentimento de despedida sem uma despedida.
Meu melhor amigo partiu novo por causa dessa pandemia. Deixou aqui nessa terra uma esposa e um filho de um ano e seis meses de idade, e também um vazio enorme que é difícil até de nomear.
Eu não sei como será a vida daqui pra frente. Só sei que a saudade será eterna…
Nenhum de meus contos retrata o caso de algum paciente atendido por mim. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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