Por volta dos meus 15 anos eu pensava que o correto na minha vida seria eu me formar médico. Eu que sou filho de dois enfermeiros, a vida toda ouvi deles que a medicina poderia me dar uma vida mais confortável financeiramente. Bem, meu nome é Saulo, eu tenho 23 anos, e hoje vou contar pra vocês como vivenciei minha primeira crise depressiva aos 18 anos.
Como eu estava falando no início, eu pensava lá com meus 15 anos que, de fato, quando eu tivesse com uns 23 ou 24 eu já estaria formado em medicina. Olha, eu passei bastante tempo pensando nisso. Terminei o ensino médio com 19 anos e já no último ano estava num ritmo frenético de estudo em busca da tão sonhada conquista “ser aprovado no vestibular de medicina da USP”.
Acontece que nesse último ano do ensino médio, lá por volta do meio do ano, julho mais ou menos, eu comecei a perder a motivação pra estudar. Acordar cedo passou a ser uma tormenta e a cada dia eu me sentia muito mal por perceber o quanto isso estava impactando meu desempenho. Nossa, como eu ouvia dos meus pais que eu estava com preguiça, que eu estava atrasando minha vida e isso me corroía por dentro. Me sentia mal mesmo né, como se eu fosse um preguiçoso, sei lá, um vagabundo que tinha tudo de mão beijada e não dava valor a nada disso. Mas eu estava vendo tudo diferente. Sabia que me atrasava ao faltar a aula na escola e o cursinho preparatório, no entanto a cada dia eu perdia as forças, olhava pra janela com sol e parecia que eu só via nuvens escuras.
Eu passei a enxergar os livros e os cadernos como se fossem as piores coisas do mundo. No quarto fingia que eles não existiam, chegaram a ficar empoeirados na mesa e tive momentos de até virar os olhos para não vê-los. Foi uma situação estranha e ao mesmo tempo péssima.
Ao todo, eu fiquei por seis meses nesse lenga lenga, até que um dia meu pai me deu um cheque-mate: – Saulo, ou você segue a escola e o preparatório direito ou você pode nos esquecer e ir embora dessa casa.
Nossa, as palavras do meu pai soaram como se ele tivesse enterrado uma espada em cada ouvido. Foi difícil demais. Primeiro porque eu sabia que estava errado, não merecia naquele momento nada de bom mesmo, mas foi difícil também porque eu sabia que tinha algo acontecendo de diferente comigo. Essa foi a pior noite da minha vida. Me senti abandonado, sem forças, e mil coisas passaram em minha mente, coisas até que eu nem gosto de lembrar.
Passado uma semana da conversa com ele, eu continuei na mesma e novamente ele veio até mim dizendo que iria me levar à um psicólogo. Eu pensei logo – Meu Deus! Eu agora de estudante preguiçoso virei um doente. Mas, segui o pedido dele e fui pra consulta. Lá o psicólogo de cara me questionou o motivo de estar desanimado e eu disse não saber ao certo porque tudo na minha vida estava acontecendo como eu sempre sonhei.
Depois de umas cinquentas sessões de terapia, sim não foi um miojo resolvido em 3 minutos, eu comecei sacar o que estava acontecendo. Lembro até hoje quando o psicólogo perguntou: – Saulo você fala que sempre sonhou em cursar medicina, mas na semana passada contou pra mim que suas piores notas na escola era em biologia e que você não gostava muito da matéria. Quais as matérias da escola você acha que mais se estuda em medicina? Pense nisso…
Olha, fiquei uma semana refletindo depois dessa fala até que cheguei à conclusão que, na verdade, eu nunca tinha sonhado em cursar medicina, este era o sonho dos meus pais, eles que desejavam ter um filho médico e não eu. Pelo que eu sei eles são felizes na profissão deles, não é nada mal resolvidos com eles não, era só preocupação mesmo em poder oferecer uma boa profissão para mim, mas eu não gosto da ideia, eu desejo mesmo é seguir carreira na área de tecnologia da informação, com máquinas, internet, sem sangue e bisturi rsrs.
Depois dessa reflexão fui aos poucos reduzindo as sessões da terapia até perceber que precisava seguir por um tempo sem ela. Mas, desde essa reflexão eu saquei que sonho herdado tem prazo de validade curta e, no caso, o meu nem precisou perder a validade, ele nem chegou a ser válido. Graças à Deus… ou a terapia né rs…
Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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