A naturalização da violência contra a mulher.

O Brasil ocupa hoje a 5ª posição no ranking mundial em feminicídio, assassinato de uma mulher pela condição de ser mulher, segundo dados do Mapa da Violência 2015 – ONU. No estado do Rio de Janeiro, as mulheres são vítimas em 70% dos atendimentos notificados como agressões físicas nas redes de saúde, em dados extraídos entre janeiro de 2013 e junho de 2016 (Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro).

Imagem do site www.pixabay.com

Sabemos o quanto a questão cultural que atravessa as subjetividades implica nos processos de violência contra a mulher e naturalização da mesma. Na última semana vimos uma grande cantora gospel lançar em seu mais novo clipe a situação de um casal onde a esposa que sofria diversas formas de violência (incluindo a física) suporta a situação de forma passiva e acredita que sua fé poderia atuar e a livrar da violência sofrida em seu lar.

O que chama atenção é que o clipe retrata uma grande verdade brasileira, incluindo os lares que professam a mesma fé. O que causou revolta não apenas em mim enquanto mulher, mas como em muitas pessoas, é que a grande problemática foi a naturalização da violência praticada às mulheres. Vejamos: na primeira versão do clipe em nenhum momento mostra as mulheres que a violência deve ser denunciada.

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A posição em nota da gravadora responsabilizou a diretora artística com seu nome em caixa alta deixando bem claro que foi escolhido por uma mulher. Além disso, pediu desculpas pelo clipe “não ser compreendido por alguns…”. Depois, para piorar tudo, a cantora em nota alega que os “inimigos de Deus não crê” se referindo a regeneração de uma pessoa.

O que percebo disso tudo é a preocupação com a imagem em si no mercado e não de fato com a ideia de propagar na sociedade que violência é crime e não deve esperar pela regeneração do agressor, embora ela possa acontecer, não é a realidade. Muitas mulheres não têm tempo para gozar de uma relação plena, porque seu agressor coloca sua vida nas estatísticas do feminicídio.

“Em um dos meus primeiros contatos com casais de uma denominação religiosa atendi de perto mulheres que sofriam violências de seus companheiros, pelas mesmas mãos que “abençoavam” as vidas nas reuniões e cultos no decorrer da semana. Os crimes iam dos mais sutis aos mais graves. Depois de um tempo não dei conta de dar continuidade, era difícil lutar contra um sistema opressor e patriarcal.”

A grande mídia e as pessoas que de certa forma são influenciadores precisam manter seu papel social e político, aliás seja qual for a religião ela precisa pregar o amor e entender de fato qual seu papel na sociedade, servir e acolher os que sofrem.

O clipe foi regravado, as “desculpas” foram dadas, mas a gente sabe o que as mulheres escutam ao procurar seus líderes religiosos quando sofrem algum tipo de violência no seu relacionamento. Eu mesma há anos atras já escutei bastante, mas eu dei um basta. E você, teve apoio quando precisou buscar ajuda?

BASTA (Fotografia pessoal da psicóloga)