Você não está exigindo produtividade, você está sendo violento. Assédio moral é um tipo de violência psicológica.

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Escrevo este texto por um motivo simples: Presenciei por naos casos de gestores extrapolando em suas cobranças para atingir mais produtividade. Na maioria das vezes o objetivo era impossível de ser alcançado, por isso eles reproduziam um comportamento típico de ser concebido como violência.

Sim, isso é real e muito mais comum do que você imagina, apesar de errado, em muitos lugares é tido como normal porque entende-se que cada líder tem um perfil diferenciado de fazer gestão ou também pela cultura de “quanto mais pressão mais produtividade…”.

Refletir sobre o assunto é importante porque tal comportamento tem inúmeras consequências, sobretudo na esfera psicológica. E somos seres psicológicos, precisamos estar bem com nossos pensamentos e emoções para conseguirmos produzir satisfatoriamente.

Sobre os impactos desse tipo de violência, é unânime a visão de que a vítima é quem mais sofre. No entanto, os aspectos negativos não se limitam aos vitimados, eles vão além interferindo também no clima da equipe e na produtividade coletiva como um todo.

Você pode pensar ser um tanto exagerado utilizar o termo violência para referir à um acontecimento na esfera empresarial, uma vez que é mais comum encontrarmos artigos utilizando o conceito de assédio moral que, de tanto ouvirmos falar sobre ele, acaba por soar como menos agressivo aos nossos ouvidos. ACONTECE QUE ASSÉDIO MORAL É UMA VIOLÊNCIA, não se esqueça disso.

Já ouvi muita gente dizer que é impossível reduzir este tipo de violência dentro das empresas porque ela é inerente ao ser humano. Então, em detrimento à isso, algo precisa ser esclarecido: agressividade é diferente de violência. A agressividade é constitutiva de nós humanos, assim sendo ela é uma forma de auto-afirmação necessária para a sobrevivência em sociedade. Já a violência, esta seria o uso de estratégias conscientes a fim de ferir o outro. Portanto, por “sermos uma espécie evoluída”, dotada de reflexão, a violência é para mim um processo cognitivo reproduzido socialmente. O ser humano pode decidir ser violento ou não, o que é diferente quando ele necessita ser agressivo para se proteger. 

Nesse sentido, acabar com a violência pode ser uma tarefa difícil, porém reduzi-la é possível e toda empresa deveria ter políticas de desenvolvimento interpessoal para este fim. Investir nisso é importante até por uma questão de natureza capitalista, pois quanto mais presente for a violência dentro do contexto organizacional menos resultados os colaboradores irão apresentar. Como mencionado anteriormente, precisamos estar bem para explorarmos todo o nosso potencial.

Já vi profissionais saírem de reuniões em grupo tão envergonhados pela forma como foram tratados que se quer conseguiram se manter até o final do expediente. E aí, você acha mesmo que essas pessoas entregaram tudo que podiam nesses dias? É ÓBVIO QUE NÃO!

Mas, para ficar tudo alinhando, o que é violência psicológica?

Violência psicológica se traduz a partir de agressões verbais ou gestuais com o objetivo de aterrorizar, rejeitar, humilhar a vítima, restringir-lhe a liberdade ou, ainda, isolá-la do convívio social. Indica também a rejeição de pessoas, na inter-relação… (NJAINE, ASSIS, CONSTANTINO, 2013, p.39).

Heloani diz que o assédio moral é uma violência invisível, pois acontece muitas vezes de forma sutil e perniciosa (HELOANI, 2003, p.58). Grosso modo e para efeito de identificação, seria cometer o que foi dito acima no conceito de violência psicológica, e na prática seria um chefe gritar com um funcionário, puxar a camisa, passar e-mails grosseiros, ridicularizá-lo na frente de outros colaboradores, dar demanda além do que é possível ser feito para aquele funcionário e para a função, retirar dele demandas de sua responsabilidade, enfim, uma série de questões.

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Eu gosto de utilizar como referência o filme “O Diabo Veste Prada” para exemplificar o que é violência psicológica. O comportamento da executiva “Miranda Priestly”, uma das personagens principais da trama, não é adequado para efeito de liderança. A executiva no filme sujeita seus funcionários a situações vexatórias, os humilha frente à outros profissionais, não compreende o limite entre vida pessoal e profissional, etc. Além disso, realiza pressão psicológica forçando a produtividade e os fazendo aceitar aquele comportamento inadequado como correto, em virtude da influência/importância de seu cargo e da prestígio da empresa no mercado de moda (olha a violência invisível aí). Posturas assim não é admirável em ninguém, tampouco em um executivo.

Obs.: Como o assédio moral é um termo jurídico para a violência psicológica, para efeito de sua identificação e aplicabilidade juridicamente, é importante salientar que tais comportamentos do agressor precisam ser costumeiros. Ou seja, não é um fato isolado que configura assédio moral, é preciso a repetição das práticas para ser considerado experiência de assédio. Esse entendimento é complexo, pois ao mesmo tempo em que compreende a possibilidade nas relações humanas, e os seres humanos podem errar uns com os outros, também deixa margem para que algumas violência fiquem impune.

E o que acontece com que sofre violência psicológica no trabalho?

As pessoas que sofreram ou sofrem com assédio moral apresentam alguns comportamentos já identificados de acordo com o gênero feminino ou masculino. Por exemplo, a mulher se sente humilhada, expressa sua indignação com o choro, alimenta sentimentos de inutilidade, fracasso, apresenta sensações psicossomáticas como tremores e palpitações, desenvolve depressão, insônia e até diminuição da libido. Já os homens, eles sentem-se revoltados, indignados, desonrados, com raiva, traídos, alimentam sentimento de vingança, fracasso, inutilidade e baixa auto-estima, e sentem-se envergonhados diante da família (Cartilha do Ministério do Trabalho, 2020, p. 22 e 23).

Enfim, inúmeras são as situações que podem ser consideradas como violência e é preciso ficar claro que dentro dos grupos, das organizações, não existem máquinas, tampouco super-heróis, mas sim PESSOAS. Portanto, humanizar o trabalho não significa deixar de se exigir resultados, mas sim compreender que apesar de tudo e de todas as dificuldades que alguém possa apresentar, quem apresenta resultados nas empresas são as pessoas e elas possuem questões pessoais e profissionais que precisam ser compreendidas para melhor produzirem. O ser humano precisa de desenvolvimento, de acompanhamento, de feedbacks, de espaços para se abrir e se sentir útil, etc…

É importante refletir diariamente se você está cobrando produtividade ou se está sendo violento. Já pensou nisso?

Se você passou por alguma situação e quer compartilhar para ampliar a reflexão sobre o assunto deixe seu comentário.

Referências:

  • Njaine, Kathie, Constantino (Org). Impactos da violência na saúde. Rio de Janeiro: EEAD/ENSP, 2013.
  • Cartilha do Ministério do Trabalho: Assédio Moral.

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Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo Clínico (CRP 05/54280), Especialista em Psicoterapia Cognitiva e Doutor em Psicologia pela UFRRJ. Atua como Terapeuta Cognitivo comportamental e Junguiano. Tem formação em Terapia Cognitiva, Terapia do Esquema, e Terapia da Aceitação e Compromisso. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental e Autoconhecimento, Memória Social, História da psicoterapia e Formação do Masculino.

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