No dia 15 de outubro de 2016, eu tive a certeza absoluta de ter perdido o amor da minha vida para o câncer. Mas, com o passar do tempo vi que não, ele apenas nos afastou por um período breve…
Meu nome é Patrícia, tenho 33 anos e vou contar pra vocês como a terapia me ajudou a superar o luto da perda de minha mãe.
Eu sou professora e minha mãe partiu justamente no dia do professor. Uma coincidência ridícula, justamente por ela ter sido minha primeira professora, aquela que me ensinou a andar e a falar as primeiras palavras. Com ela eu aprendi a ser quem sou…
A sua partida levou um pouco de nós, carregou um amor que não darei a mais ninguém, deixou uma nova lição em minha vida exigindo de mim força, superação, resiliência, e muitas outas coisas. Acima de tudo, minha mãe deixou saudade… uma saudade que às vezes dói na alma, que nada supri, nada afaga, mas aos poucos eu tenho conseguido seguir.
Quando partiu, ela já estava lutando contra o câncer fazia 02 anos e a gente sabia que tudo aquilo podia acontecer, mas, na verdade, a gente nunca está preparada pra se sentir sozinha no mundo. Foi assim que eu me senti no momento em que perdi minha mãe. Eu sabia que a partir daquele momento era eu e somente eu.
Sabe, eu e ela brigamos a vida inteira e por todos os motivos. Tudo era motivo pra uma discussão, era roupa fora do lugar, eram compras desnecessárias, eram decisões que eu tomava, enfim, nosso codinome era briga. Mas, apesar disso, nós éramos amigas, a gente dividia os sonhos, os medos, a gente se ajudava em tudo, na medida do possível.
Com ela eu aprendi a ter fé, a respeitar as pessoas, a correr atrás dos meus sonhos, a ter atitude pra buscar minha felicidade… eu aprendi tanto que é difícil citar descrever…. Tudo o que sou eu devo a ela.
Logo que ela se foi eu me senti desamparada. Por mais que eu conversasse com meu marido, com um amigo, por mais que eu amasse minha filha e sabia da importância da minha vida pra eles, em muito momento eu não tive forças pra nada. As vezes minha vontade era deitar e ficar o dia todo olhando o teto procurando rachaduras ou sombras nas cores, isso era mais estimulante que levantar pra trabalhar ou cuidar de minha filha, casa e marido.
Com sua partida tudo mudou. Não dava mais pra enxergar as atividades do cotidiano da mesma forma. Meu trabalho foi deixado de lado por um bom tempo e as viagens longas que eu fazia pra chegar até ele eram exclusivas pra pensar nela, porque eu não tinha mais energia pra reagir, era uma saudade que corroía tudo dentro de mim…
Passado um ano desde sua morte um amigo me orientou procurar terapia. Ele sabia do meu estado e queria ajudar. Eu não aceitei a ideia de pronto, não me via mal, apenas não estava animada e muito triste por causa de tudo. Ele insistiu, marcou pra mim e me levou até a primeira consulta. Lá eu não falei nada, quando questionada sobre o motivo do atendimento, eu apenas respondi com choro.
Aquela reação mostrou de forma transparente minha necessidade para o momento. Eu tinha um luto que não passava e parecia que se eu o deixasse elaborar ela iria partir de vez. O psicólogo me acolheu e me ajudou a pensar sobre isso. Ele me ajudou a chorar de verdade, a colocar no choro todos os pensamentos e emoções guardadas por um ano, ele me ajudou a desabar pra eu renascer e aceitar uma nova vida.
Com a terapia eu aprendi muitas coisas, mas, acima de tudo, aos poucos fui percebendo a existência de muita vida ainda. Sim, porque minha mãe partiu, mas ela continua a existir em mim, e isso se traduz em vida, porque ainda existe muita vida em mim e para mim.
Eu tenho conseguido valorizar as pequenas coisas, a amar cada vez mais minha filha, as boas novas que têm surgido depois dessa mudança. Percebo o quanto a presença dela é viva e que essa partida significou uma pequena parte de nossa história.
Minha mão continua viva dentro de mim e enquanto ela estiver em minha memória fará parte deste mundo. Foi ela quem me colocou aqui, ela quem me deu a oportunidade de gerar e contribuir com a vida. O câncer não nos venceu, ele fez apenas parte de um momento de nossas vidas, mas jamais substituirá o tudo que ela foi e é pra mim.
Então, eu cheguei na terapia pra falar de um amor, um luto, uma solidão, e foi um momento de ressignificação, reconstrução e uma nova vida…
Minha mãe vive em mim e isso me faz levantar todas as manhãs…
Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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