Eu me chamo Silvia.
Eu sou funcionária de uma escola pública no Rio de Janeiro e dou aula de Geografia para o ensino fundamental. Atualmente estou com 37 anos, tenho duas filhas, uma com 8 anos e a outra com 4, e sou casada há 12 anos. Hoje vou contar pra vocês como foi meu primeiro dia na consulta com a psicóloga, e o que me motivou a iniciar terapia.
Obviamente que no primeiro dia da consulta com a psicóloga a gente fica se sentindo estranha rs. É uma situação inusitada pra gente e ao mesmo tempo confortante, pois você acaba por falar de sua intimidade para alguém que é desconhecida. E eu não sabia o quanto isso faz bem…
Eu cheguei no consultório da psicóloga por volta das 10h da manhã e logo de cara, assim que me apresentei e observei um pouco a sala, ela me perguntou: – Então Silvia, o que traz você aqui?. Gente, confesso que eu ouvi a pergunta e me senti trêmula… Foi um mixer de emoções… Pela primeira vez em 12 anos eu confessaria pra alguém o que eu vivia dentro de casa com meu marido. Eu senti vergonha, muita vergonha…
Nos segundos enquanto eu pensava em como responder a psicóloga o tempo pareceu uma eternidade e me peguei distraída olhando objetos meio sem sentido na sala. Parecia que minha consciência queria mesmo arrumar uma fuga, porque a vontade era de sair correndo dali. Lembro de observar um quadro na parede com uma frase escrita em vermelho e aquela imagem meio que me travou e ao mesmo tempo me levou de volta para o momento presente. Me senti congelada, em silêncio por um tempo, como se permanecer fixada naquela paisagem fosse me salvar da angústia de ter que dividir com alguém a minha vida.
Depois de alguns minutos de angústia que pareciam intermináveis, eu respirei fundo, olhei nos olhos da psicóloga e disse: – Bem, se eu tiver que contar o que vivo hoje vou ter que falar sobre minha infância e tem umas coisas que eu acho importantes. Logo depois dessa fala me veio à mente “- por que não fala de uma vez só, se livra desse peso, você tá fugindo dessa dor”, e assim eu fiz. Com a voz trêmula, com medo, com dor no estômago, eu soltei: – sabe psicóloga, eu estou aqui porque sou agredida pelo meu marido.
Logo que me abri, além da dor no estômago, senti como se eu estivesse me engasgando e junto disso uma forte ardência subia pelo pescoço. Do nada eu chorei muito, nunca tinha chorado tanto com alguém, muito menos uma pessoa desconhecida, mas eu chorei, chorei como se não houvesse amanhã… eu lavei a minha alma.
Quando me recompus fiquei envergonhada, sem saber o que fazer. O olhar da psicóloga era de compreensão, solidariedade e atenção. Eu me sentia bem em saber que ela estava ali me ouvindo sem julgamento. Mas apesar de me sentir acolhida eu ainda me sentia mal. Era como se eu quisesse abrir um buraco no chão pra eu entrar, por isso comecei a falar coisas sem sentido até o final da sessão. Quando eu saí do consultório fui embora me sentindo aliviada, com ar de esperança, acreditando que eu conseguiria dá um jeito na minha vida e já pensando em o que contaria pra ela na próxima sessão…
Nenhum de nossos contos retratam o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que levam pessoas a procurar terapia/psicoterapia.
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