Eu sou a Cristina, tenho 42 anos e vou explicar como eu comecei a ter psoríase já na adolescência.
Eu tive festa de debutante que é o sonho de toda menina… então posso dizer que viver meus 15 anos foi mágico… Aquela coisa toda de princesa, com dança, vestido rodado e longo, o meu era azul, foi tudo lindo. Eu amei poder dançar com meu príncipe, ele era um gato por sinal. Foi um momento mágico, dos sonhos mesmo. Lembro que meus pais sugeriram me dar uma mesada no lugar dessa festa, mas eu não quis, preferi viver aquele momento. Eles se esforçaram dentro das possibilidades da época pra me proporcionar uma festa maravilhosa, literalmente digna de uma princesa, e eu me sinto feliz até hoje quando lembro daquele dia.
Mas, pouco tempo depois eu comecei a entender que, por eu já ter 15 anos, precisava mudar meu jeito de ser. Pensava que eu já era praticamente uma adulta e não podia agir como uma adolescente. Isso aconteceu aos poucos, não foi nada abrupto, e eu via o incentivo da minha mãe pra que isso acontecesse.
Então, meu maior desejo após minha festa de debutante foi me tornar adulta. E, apesar de ser apenas um desejo, de fato com aquela idade eu já me comportava como uma. Era assim que eu me via, me cobrava pra agir assim e percebia que as pessoas à minha volta gostavam disso, principalmente minha mãe.
Por falar nela, eu a amo demais, ela é uma pessoa que está sempre me incentivando, me dando força pra tudo. É uma mulher forte, inteligente, destemida, a responsável pela casa em todos os sentidos. Meu pai sempre foi pacato, nunca se preocupou com nada, garantia o necessário para sobrevivermos e descansava. Minha mãe não, ela trabalhava em casa, fazia faxina na casa de amigas pra ter seu próprio dinheiro, estudou e se formou professora sozinha sem ajuda do meu pai. Claro que esse jeito forte de ser também guarda alguns pontos complicados, como o lado mandão. Sabe aquelas pessoas autoritárias? Então, ela é assim… Tudo precisa acontecer nos mínimos detalhes, sempre como ela pensa ser o melhor, do contrário, o bicho pega. Mas eu já me acostumei com isso…
Depois que eu fiz 15 anos e comecei a me cobrar mais sobre desempenho e minha mãe incentivava sempre. Além disso, em muitos momentos ela era intransigente, desmotivava que eu vivesse coisas normais de adolescentes, e enfatizava que eu tinha mesmo que mudar. Assim, eu entrei numa neurose total de viver a vida de uma pessoa adulta, mesmo sendo ainda uma adolescente. Eu me preocupava em conseguir um emprego, eu só pensava em terminar a faculdade e ter dinheiro. Eu precisava de dinheiro, muito dinheiro pra dar conta de suprir todas as necessidades da casa. Eu encasquetei na mente que devia arrumar um marido o mais rápido possível e me casar. E muitas outras coisas…
Com o passar o tempo percebi que esses pensamentos estavam me deixando nervosa, eu já não conseguia dormir direito pensando nessas coisas.
Cheguei a deitar com um relógio em cima do meu peito controlando todo o movimento de segundos de meia noite até às oito da manhã. Minha mãe dizia que era frescura minha e que eu devia mesmo conseguir as coisas o mais rápido possível porque ela e meu pai já tinham feito muita coisa por mim.
Quando eu já estava com 16 anos e meio, quase dezessete, começou a aparecer umas manchas na pele e depois de certo tempo elas começaram a secar e a descascar. Minha mãe não se importou em me levar ao médico, fui sozinha, o clínico geral me indicou um conhecido dele dermatologista e depois dessa última consulta ele me disse que era uma doença sem cura, tinha apenas remissão dos sintomas a partir de um tratamento controlado. Além disso, ele me indicou para um psicólogo, pois existia o indicador de elevado estresse como coadjuvante nesse processo de adoecimento.
De início eu entrei em choque, pensei que “era só o que faltava na vida eu ficar louca”. Lembro que nessa época eu já estava toda enrolada na escola, por não dormir direito quase não conseguia assimilar os conteúdos estudados e continuava a ser pressionada em casa pelos resultados.
Eu fui pra terapia meio à contragosto, mas fui, e lá descobri algumas questões em mim. Aos poucos foi ficando mais nítido esse processo que eu contei pra vocês dessa autocobrança por ser adulta aos 15 anos. Percebi que meus pensamentos não estavam organizados e eu havia pego uma realidade que não era a minha como verdade e muito nova sentia um peso que não era compatível e necessário, meus pensamentos me adoeceram… Lembro que a psicóloga conversou com minha mãe que ficou receosa com a profissional nos primeiros 6 meses de terapia, depois entendeu que a psicóloga só queria ajudar mesmo.
Então pessoal, com quase 17 anos eu fui me dar conta que minha mente embaralhou depois dos 15 e que minha mãe estava contribuindo pra isso. Foi preciso aceitar que existiam fases e que eu precisava viver o fim de minha adolescência sem culpa. Foi um processo natural a psoríase reduzir. Eu continuo tendo algumas crises, às vezes mais fortes, outras mais fracas, mas nem se compara com as que eu tive. Eu ainda estou em terapia, sabe como é né, é sempre bom prevenir que remediar.
Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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