Qual a diferença entre emoção e sentimento?

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Historicamente o ser humano sempre buscou compreender seus sentimentos, inclusive, antigamente, o coração era o órgão tido como o centro de tudo, como se fosse o nosso cérebro hoje. Do coração brotava nossa motivação, nossos sentimentos, ou seja, as atitudes humanas eram sempre relacionadas como se tivessem partido dele. Ainda hoje encontramos simbolicamente os sentimentos sendo relacionados às imagens de coração, enquanto que a racionalidade já é vista como atributo cognitivo e, portanto, representada pelo cérebro. Podemos identificar a importância dos sentimentos também nas grandes religiões que conhecemos, pois através de suas práticas percebemos o quanto sentimentos e emoções foram e ainda são um assunto presente. Ter esperança, amor, alegria, tristeza, quem nunca ouviu algum religioso discutir sobre esses assuntos, não é mesmo?

Existem teorias da Psicologia que trabalham especificamente com os sentimentos humanos, em virtude de compreendê-los como chave fundamental para nos autoconhecermos. Você conhece os sentimentos que têm? Sabe de onde surgem? Sabe por que eles existem? Acredito que você, como a maioria das pessoas, nunca tenha se quer refletido sobre seus próprios sentimentos e em decorrência da campanha “Janeiro Branco” escrevo este texto.

Apesar de na prática serem compreendidos como sendo sinônimos, sentimentos e emoções são coisas diferentes. Todavia, essas duas reações se relacionam sim e formam as experiências que vivenciamos no dia a dia a qual chamamos normalmente de sentimentos.

Quando falamos em emoção, estamos nos referindo às reações químicas que ocorrem em partes do nosso cérebro e que proporcionam as emoções básicas de alegria, tristeza, medo, raiva, surpresa e Repugnância, conforme teoria de Paul Ekman. Sendo assim, as emoções acabam sendo reações automáticas que surgem frentes aos conflitos e experiências cotidianas, mas no contexto biológico (corpo). Por exemplo, supomos que ao acordar cedo e encontrar um café da manhã te esperando com um bilhete de sua mãe, pai, irmã, namorado (a), cônjuge, etc., e sendo você alguém que gosta muiiiiito de café da manhã, provavelmente, isso vai gerar alegria que é uma emoção, será algo rápido, muitas vezes instantâneo e pode desencadear o sentimento de bem estar e euforia/animação. O mesmo ocorre se, por ventura, você vem tranquilamente andando na calçada ainda refletindo sobre o trabalho que deixou pendente ou a matéria da faculdade que não deu para ler e ao virar a esquina de um prédio tromba com alguém. É possível que você se assuste bastante, ou seja, se surpreenda com a situação, mas também pode ficar com medo, raiva da pessoa e isso também é automático, instantâneo ao acontecimento.

Quanto aos sentimentos, eles surgem em decorrência das emoções e se relacionam intimamente com memórias, cognições (crenças), fatores externos, como, por exemplo, experiências de vida, etc. Utilizando o exemplo citado acima, após a emoção negativa (medo), o sujeito poderia sentir-se confuso, poderia bater um desespero de leve, poderia construir inúmeros pensamentos automáticos sobre encontrar um desconhecido em uma esquina e isso reforçar as emoções que surgiram e ajuda na elaboração de mais sentimentos. Enfim, sentimento seria uma produção da mente humana, enquanto que a emoção é do corpo humano. Cérebros e mentes são coisas distintas, assim como emoções e sentimentos também são, mas se relacionam.

Outro exemplo de como uma emoção pode desencadear um sentimento: Digamos que em uma reunião de trabalho surge uma discussão calorosa sobre determinado assunto que você domina e dias antes tinha conversado com seu líder sobre algumas ideias que estava querendo sugerir nessa mesma reunião. Acontece que no meio da reunião você percebe literalmente  seu líder usando suas ideias como se fossem deles, ganhando então todos os louros frentes aos demais colegas e ao superior dele. Automaticamente, naquele momento, você tem uma forte “repugnância” em relação a ele, ou seja, uma forte emoção que acarreta muitos sentimentos como repulsa, aversão, antipatia, incompatibilidade e até ódio relacionado ao seu líder. Viu como as duas reações são muito próximas, a diferença é marcada por uma linha muito tênue.

Na prática é muito mais simples porque sempre compreendemos nossas emoções como sendo nossos sentimentos e vice e versa. De fato essa explicação conceitual acaba por fazer pouca diferença em nossa vida porque o mais importante é ter a consciência da existência de nossos sentimentos, pois eles nos impulsionam a ter determinados comportamentos e consequentemente impactam positiva e negativamente em nossas vidas. Uma pessoa que vive muito amparada em seus sentimentos acaba ficando a mercê deles, pois pode se comportar como alguém muito frágil, delicada, sem conseguir objetividade e reflexão nas tomadas de decisão. O mesmo impacto ocorre quando a pessoa não tem consciência dos sentimentos que possui e acaba sendo levada por suas emoções. Nesse caso, muitos conflitos podem surgir, pois a falta de conhecimento dos próprios sentimentos pode levar a comportamentos desastrosos.

A partir do que foi explicado você pode estar se perguntando: mas como eu consigo controlar ou reconhecer minhas emoções e sentimentos então?

Uma forma muito eficaz para você conseguir fazer melhor gestão de suas emoções e sentimentos é a psicoterapia. Através da análise terapêutica com psicólogo você passa a reconhecer com mais facilidade os sentimentos que têm, os pensamentos que reforçam seus sentimentos e, consequentemente, consegue alcançar “bem estar”. Isso contribui para sua “saúde mental” e eleva o nível de satisfação pessoal impactando positivamente sua vida.

Todos nós podemos ser inteligentes emocionalmente e isso depende do nosso desejo e atitude comportamental em buscar autoconhecimento. Cuidando de sua saúde mental você estará proporcionando melhora em seus relacionamentos, sentirá mais prazer em suas atividades diárias e terá mais sensação de felicidade. Além disso, é possível que a partir do investimento em sua saúde mental/emocional, você melhore seu desempenho profissional, afinal de contas, com sua mente em dia, todas as demais atividades cotidianas tendem a se tornarem mais leves e promissoras.

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Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo Clínico (CRP 05/54280), Especialista em Psicoterapia Cognitiva e Doutor em Psicologia pela UFRRJ. Atua como Terapeuta Cognitivo comportamental e Junguiano. Tem formação em Terapia Cognitiva, Terapia do Esquema, e Terapia da Aceitação e Compromisso. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental e Autoconhecimento, Memória Social, História da psicoterapia e Formação do Masculino.

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