Por diversas vezes eu já ouvi amigos, conhecidos e familiares falarem que queriam agendar uma sessão de psicoterapia comigo e até mesmo afirmarem que não faria terapia se não fosse comigo. Bem, quando isso acontece meu posicionamento é sempre o mesmo: eu falo que psicólogo não pode atender parentes e amigos. Mas, será mesmo que não pode?
Não há no Código de Ética do psicólogo um veto sobre esse tipo de atendimento. Assim, fica a cargo do profissional de psicologia definir se atende ou não um familiar ou amigo, pois se não há cláusula proibindo, não existe comportamento antiético profissional.
No entanto, apesar de não existir o veto, na classe existe um consenso em decorrência do que foi e é produzido cientificamente em uma determinada linha da Psicologia, que presa pela neutralidade do psicólogo em relação ao paciente a fim de evitar que ocorra influência na análise realizada pelo profissional ao longo do terapia. Isso acontece porque nas sessões o psicólogo necessita pesquisar a fundo a história do cliente, seus problemas atuais, suas crenças, pensamentos, sentimentos, etc. e parte disso pode acabar sendo influenciado pelo conhecimento prévio que o profissional tem do cliente, ou seja, as lentes que ele utiliza para entender o caso pode parecer embaçada e ele não compreender ao certo o que se passa com o paciente, fazendo uma análise rasa das questões trazidas. Da mesma forma, um paciente que conhece o psicólogo pode não aceitar determinadas atividades, assim como, a própria análise que o profissional realizou.
Separar conteúdos que temos sobre conhecidos durante as sessões de psicoterapias demanda um trabalho tão profundo que a maioria de nós psicólogos preferimos não correr o risco de algo dar errado e assim decidimos não atender conhecidos, ou seja, não arriscar.
Porém, respondendo a pergunta do título deste texto, o psicólogo pode sim atender conhecidos se ele quiser e cabe a ele avaliar a pertinência de tal prática, os riscos envolvidos e decidir se atende ou não.