Muitas pessoas têm me perguntado sobre a Terapia do Esquema, pois esse modelo tem ganhado cada vez mais destaque no Brasil e despertado a curiosidade de muitos. Por isso, decidi escrever este texto para oferecer uma breve explicação sobre o que é a Terapia do Esquema (TE).
A Psicoterapia do Esquema, também conhecida como Terapia do Esquema, é uma abordagem contemporânea dentro das Psicoterapias Cognitivas e Comportamentais. Diferentemente do modelo tradicional da Terapia Cognitiva desenvolvido por Aaron Beck, que é geralmente pontual e centrada no “aqui e agora”, a Terapia do Esquema se destaca por abordar questões mais profundas do sistema cognitivo, como crenças e esquemas. Apesar dessa diferença, ela continua sob o guarda-chuva das psicoterapias cognitivas, mantendo os mesmos fundamentos filosóficos e empíricos.
Para compreender as diferenças entre a Terapia Cognitiva e outros modelos de psicoterapia, é útil revisitar o contexto de sua criação. A Terapia Cognitiva foi desenvolvida pelo psiquiatra Aaron Beck nos Estados Unidos, em meados da década de 1950. Embora formado como psicanalista, Beck sempre demonstrou um forte interesse por pesquisas científicas, o que o levou a testar algumas hipóteses freudianas. Segundo Korman (2013), foi justamente sua formação psicanalítica que o impulsionou na jornada de construção de uma nova abordagem, já que, desde o início, Beck esteve envolvido com pesquisas e com uma versão mais breve da psicanálise.
Após a Segunda Guerra Mundial, o Departamento de Saúde Mental dos Estados Unidos investiu significativamente em pesquisas sobre psicoterapia, motivado pela necessidade de tratar ex-soldados e pela repercussão negativa de uma publicação de Hans Eysenck (1952). Eysenck alegou que, até então, não havia evidências científicas sólidas para comprovar a eficácia da psicoterapia, apesar de os profissionais da área – em sua maioria psiquiatras – perceberem melhorias em seus pacientes. Os psicólogos, por sua vez, estavam mais envolvidos com pesquisa científica do que com a prática clínica.
Nesse contexto, Beck iniciou uma série de experimentos para validar cientificamente a psicoterapia. Um dos aspectos que ele investigou foi a explicação psicanalítica para a depressão, que sugeria a existência de uma “raiva retroflexa” (uma raiva voltada contra si mesmo) como causa do quadro depressivo. Porém, sua pesquisa revelou que todos os pacientes apresentavam cognições distorcidas em relação à realidade, o que o levou a propor uma nova forma de intervenção, mais breve e focada nos pensamentos, diferenciando-se do modelo psicanalítico.
Essas descobertas geraram desconforto nas sociedades psicanalíticas da época, que já não mantinham vínculos com os departamentos de psicologia, focados em pesquisas científicas sobre processos mentais e comportamentais. Com o objetivo de desenvolver uma abordagem psicanalítica mais “científica”, Beck se aproximou dos psicólogos, passando a incluir avaliações psicológicas em seus protocolos terapêuticos e investigando conceitos por meio de métodos científicos. Esse movimento trouxe um enfoque empírico à prática psicoterapêutica que ele propunha.
Assim, Beck acabou se associando aos pesquisadores comportamentalistas, que também enfrentavam questionamentos sobre o conceito de “processos psicológicos privados”, como pensamentos e crenças. Com o tempo, a Terapia Cognitiva de Beck se aproximou cada vez mais da Terapia Comportamental, resultando na formação de uma nova escola filosófica e prática em psicoterapia.
Como mencionei, o desenvolvimento da Terapia Cognitiva envolveu diversos fatores, mas o principal foi o interesse em alinhar a prática psicoterapêutica ao modelo científico. Com o crescimento da notoriedade do modelo proposto por Beck e a adoção de elementos integrativos em sua prática, surgiram vários outros modelos, alguns mais focados em aspectos comportamentais e outros mais voltados para processos mentais. Dessa expansão da Terapia Cognitiva, que hoje funciona como um guarda-chuva para diversas práticas, emergiu a Terapia do Esquema.
A Terapia do Esquema é um modelo de psicoterapia desenvolvido na década de 1980 pelo psicólogo americano Jeffrey Young e seus colegas. Enquanto na época de Aaron Beck, nos anos 1950, os psicólogos estavam predominantemente envolvidos em pesquisas científicas, na década de 1980, essa realidade já havia mudado, e muitos psicólogos também atuavam na prática clínica como psicoterapeutas.
Young criou a Terapia do Esquema para tratar pacientes que, segundo sua prática clínica, não respondiam bem à Terapia Cognitiva de Beck. A Terapia Cognitiva tradicional parte do princípio de que pensamentos distorcidos podem ser modificados por meio da análise e validação empírica realizada pelo próprio paciente. No entanto, Young percebeu que alguns pacientes, especialmente aqueles em terapia há muito tempo para depressão, ansiedade, ou com transtornos de personalidade, não conseguiam obter remissão de sintomas, resultando em insucesso terapêutico.
Além disso, a experiência pessoal de Young em diferentes abordagens terapêuticas, como Gestalt, Psicanálise e Terapia Comportamental, revelou que cada uma dessas práticas oferecia perspectivas distintas que poderiam ser úteis para promover mudanças nos pacientes de formas diferentes.
Segundo Young e a Terapia do Esquema, alguns pacientes não progridem com a Terapia Cognitiva tradicional porque suas dificuldades estão enraizadas em questões mais profundas, ligadas a necessidades emocionais não supridas na infância. Essas experiências resultaram no desenvolvimento de esquemas mentais desadaptativos, que são crenças nucleares abrangendo pensamentos, sentimentos, comportamentos e sensações corporais associados a vivências passadas, ativados de forma não consciente.
A Terapia do Esquema, portanto, trabalha com cognições, como a Terapia Cognitiva tradicional, mas com um foco maior em processos cognitivos inconscientes. Ela direciona a atenção para o passado, buscando acessar memórias que ajudam a explicar a origem desses esquemas, com o objetivo de enfraquecer seus impactos ao longo da psicoterapia.
Por esse motivo, a Terapia do Esquema tende a não ser uma abordagem breve. O processo terapêutico, desde a avaliação até a modificação dos esquemas, costuma levar tempo. Ela não substitui os protocolos da Terapia Cognitiva tradicional, que continuam a ser utilizados conforme as demandas específicas de cada paciente.
Resumidamente, o processo terapêutico ocorre em duas etapas: avaliação e mudança. Na etapa de avaliação, o terapeuta, junto com o paciente, identifica os esquemas ativados e as memórias do passado associadas a esses esquemas. Na etapa de mudança, o terapeuta utiliza técnicas cognitivas, emocionais, experienciais e comportamentais para promover a remissão dos sintomas relacionados aos esquemas.
Ao todo, consta na literatura a identificação de dezoito esquemas desadaptativos individuais, comuns a todos os seres humanos, que, quando ativados, tornam-se o foco do trabalho ao longo do processo terapêutico.
A seguir, vou descrever dois esquemas muito comuns para ajudar você a entender melhor o que estou falando:
Esquema de Abandono: Neste esquema, a pessoa vive com a sensação persistente de que, de alguma forma, acabará sozinha na vida.
Processo Terapêutico: O terapeuta trabalha para criar um ambiente acolhedor e seguro, ajudando o paciente a reduzir gradualmente essa percepção (cognitiva, emocional, física/corporal e comportamental) de solidão ao longo do tempo.
Esquema de Fracasso: Nesse esquema, o paciente sente que é inadequado ou incapaz de alcançar seus objetivos, acreditando que está destinado ao fracasso em diversas áreas da vida.
Processo Terapêutico: O terapeuta ajuda o paciente a identificar e explorar as memórias que sustentam a sensação de fracasso, utilizando técnicas cognitivas, emocionais e comportamentais para desafiar e ressignificar esses conteúdos registrados de forma inconsciente.
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