A Teoria das Inteligências Múltiplas.

Um feedback mal aplicado me deu a certeza de que eu precisava mesmo buscar novos horizontes.
6 de fevereiro de 2017
Você não está exigindo produtividade, você está sendo violento. Assédio moral é um tipo de violência psicológica.
30 de março de 2017

Recebi um e-mail pedindo para escrever sobre a teoria das “Inteligências Múltiplas” em virtude de uma imagem que compartilhei semana passada em nosso perfil no Instagran. Confesso que inicialmente o objetivo não era falar sobre a teoria, até porque, às vezes, uma imagem fala tudo que você deseja apresentar, mas atendendo ao pedido segue mais um texto.

Antes de falarmos sobre o conceito de inteligências múltiplas é importante frisar que o próprio conceito de inteligência é dificílimo de definir, mesmo por aqueles que se debruçam a estudar a inteligência. Pensando no conceito em si, aceitamos a ideia de Dalgalarrondo (2008) que a entende como:

a capacidade de identificar e resolver problemas novos, de reconhecer adequadamente as situações vivenciais cambiantes e encontrar soluções, as mais satisfatórias possíveis para si e para o ambiente, respondendo às exigências de adaptação biológica e sociocultural.”

Para a Psicologia a inteligência é um processo psicológico básico do ser humano, ou seja, é uma função psíquica e enquanto constructo para medição em testagem é base para avaliação das seguintes habilidades: raciocínio, pensamento abstrato, compreensão de ideias complexas, aprendizagem rápida, aprendizagem a partir da experiência e resolução de problemas. Essas habilidades são avaliadas em testes de inteligências a fim de compreender como se dá o funcionamento mental de cada indivíduo.

Sei que assim como eu você deve pensar que a pessoa mais inteligente é aquela que sabe falar um outro idioma, sabe fazer contas como ninguém, lê vários livros em apenas um mês, etc. Quando estudamos e recebemos a notas das provas sempre notamos a facilidade que uns têm para se saírem bem nesse tipo de Avaliação. Enfim, sempre observamos a inteligência através dos resultados que alcançamos, e em grande parte a vinculamos às habilidades mais difíceis de serem encontradas por aí, como, por exemplo, raciocínio matemático.

Mas, de acordo com o autor e pesquisador Howard Gardner, psicólogo cognitivo americano da Universidade de Harvard, não existe uma inteligência apenas para o ser humano, mas sim, várias inteligências, formando então o que ele chama de “Inteligências Múltiplas”. É como se houvesse um guarda chuva de inteligências e cada um pode ter uma preponderância para uma delas. Para Gardner existem 7 (sete) categorias de inteligências abrangentes ou faculdade mental, a saber: linguística, interpessoal, lógico-matemática, intrapessoal, musical, espacial e corporal-cinestésica.  De certa forma possuímos um pouco de cada uma dessas inteligências, embora sempre haja uma que se sobressai frente às demais.

As ideias de Gardner contrapunha os conceitos do teste de QI criado por Alfred Binet (1857-1911) que definia o conhecimento lógico-matemático como parâmetro para avaliação da inteligência. Alfred e Binet compreenderam a inteligência dessa forma, pois perceberam que a maior dificuldade das crianças era justamente no conhecimento lógico-matemático, logo, a criança ou adulto que apresentasse maior facilidade nesse conhecimento era tido como mais inteligente. Todavia, Gardner questiona essa tese levando em consideração que no decorrer da vida necessitamos de inúmeras habilidades para nos adaptarmos ao mundo, nos colocando em constante mudança. Somente o conhecimento lógico-matemático não é suficiente para garantir sucesso de alguém, seja academicamente, profissionalmente ou também na vida pessoal.

Nosso leitor disse que já foi chamado por diversas vezes de “burro”, pois tem muita dificuldade com pensamentos lógicos, porém disse gostar muito de música e aprendeu a tocar violão sozinho. Infelizmente ainda encontramos pessoas que pensam existir um traço específico do ser humano que o difere do outro fazendo então com que este seja tido como inteligente e o outro não. Pensamentos assim reforçam comportamentos como o compartilhado por nosso leitor.

Quem nos escreveu compartilhou que aprendeu a tocar violão sozinho e isso prova como somos diferentes também nas inteligências. Eu certamente não tenho habilidade alguma para música e provavelmente teria muita dificuldade para aprender a tocar violão, quiçá aprender sozinho.

Eu sei que muita gente pode está se perguntando: Como esse rapaz vai se sustentar tendo inteligência musical?

Guitarra, Pedra, Metal, Músicas

Minha resposta para a pergunta acima é simples, pois hoje o mercado de trabalho já não é mais o mesmo ou pelo menos já não é mais visto como antigamente. Uma pessoa que sabe trabalhar seus talentos pode alcançar mais sucesso que estudantes de curso MBA ou graduação tradicional por exemplo. O fato é que a inteligência pode favorecê-lo e somada a outras habilidades pode sim ser chave para o sucesso. Um músico hoje pode fazer inúmeras coisas e não apenas tocar. Desenvolvendo novas habilidades ele pode ser dono do próprio negócio no ramo musical, pode gerenciar empresas que vendem produtos musicais, pode trabalhar para produtoras de eventos e artísticos, pode estudar música academicamente, pode criar um APP e vender vídeo aulas, pode dar aula articular de música, pode formar uma banda, pode estudar outras áreas e utilizar a música como ferramenta de interação, etc.

Este ranço da academia e consequentemente do senso comum de que há uma inteligência que separa os melhores indivíduos, contribui sobremaneira para exclusão tanto no próprio meio acadêmico de todos os níveis como também no contexto profissional, onde percebemos que algumas características são mais valorizadas em detrimento de outras.

Bom mesmo seria se as empresas e as escolas se empoderassem dessa teoria a fim de conseguir o melhor das pessoas que compõem seu quadro funcional e escolar. Imagina se em nosso país os diversos tipos de inteligência fossem valorizados. Seria ótimo, pois encontraríamos mais talentos por aí ao invés de pessoas frustradas com suas carreiras e cursos escolhidos.

Enfim, o conhecimento sobre a teoria das Inteligências Múltiplas muito pode contribuir para que percebamos o melhor de cada pessoa, independente de qual o seu talento e sem colocá-lo como melhor ou pior que outro. É uma teoria que pode somar no contexto Organizacional e escolar, pois dentro das empresas o melhor das pessoas pode ser extraído a partir do conhecimento de suas habilidades e no contexto escolar melhorar o desempenho acadêmico dando ênfase para as habilidades de cada aluno.

Se você deseja falar conosco ou está em busca de ajuda para si ou para alguém, clique aqui.

Para ampliar sua leitura sobre o tema pode consultar os livros abaixo utilizados por nós como referência:

Smole, Kátia Cristina Stocco. Múltiplas Inteligências na Prática Escolar. Ministério da Educação, Secretaria de Educação a Distância. Brasília, 1999.

DALGALARRONDO P. Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais. 2ª edição. Porto Alegre: Artemd, 2008.

27-inteligencias-multiplas

Maicon Moreira
Maicon Moreira
Psicólogo Clínico (CRP 05/54280), Especialista em Psicoterapia Cognitiva e Doutor em Psicologia pela UFRRJ. Atua como Terapeuta Cognitivo comportamental e Junguiano. Tem formação em Terapia Cognitiva, Terapia do Esquema, e Terapia da Aceitação e Compromisso. Tem interesse nos seguintes temas: Psicoterapia Cognitiva, Psicologia Analítica, Violência Psicológica, Saúde Mental e Autoconhecimento, Memória Social, História da psicoterapia e Formação do Masculino.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Fale via WhatsApp