Eu encontrei um psicólogo pelo Instagram e decidi agendar uma consulta porque sempre acreditei que o autoconhecimento nos ajuda a ter uma vida melhor. No entanto, eu nem achava que minha vida estava ruim naquela época, apesar de viver um pouco ansioso, eu fui mesmo de curioso e talvez pra fazer algo diferente. Agora já tem um tempo que eu estou em terapia e vou contar pra vocês algo surpreendente que me ocorreu logo que iniciamos as sessões. Eu me chamo Dionísio, tenho 43 anos, sou policial federal.
Desde muito novo sempre tive curiosidade em experiências que prometem transformar a vida numa trajetória mais leve. Por isso, logo assim que eu terminei o ensino médio eu comecei o curso de filosofia impulsionado por esse desejo, mas larguei no primeiro período e migrei para o direito pela vontade de prestar concursos públicos.
Apesar de já ter lido vários livros de autoajuda, terapia mesmo foi a primeira que eu encarei e a experiência foi muito positiva. O primeiro ponto que levei pra discutir com ele era meu desejo por encontrar um sentido na vida. Porque eu tinha conquistado muitas coisas no âmbito financeiro e acadêmico, mas sentia que faltava algo e não sabia entender exatamente o quê. Aliás, todo esse início foi importante pra eu perceber como eu estava há vários anos perdido num labirinto, sem saber exatamente o que eu gostava, sem entender o que havia condicionado as minhas escolhas e os motivos de tudo até chegar ali.
Me dar conta disso foi incrível e ao mesmo tempo assustador. Lembro que eu ficava pensando nessas coisas ao longo do dia de tão motivado que eu estava para me entender. E, no todo, eu fui percebendo que eu estava mesmo era extremamente confuso sobre mim. Recordo que uma vez eu tive um sonho bastante estranho e minha sensação foi tão esquisita que perdi o sono e fiquei horas pensando nele.
Eu sonhei que estava num lugar grande, com muros altos, eram todos feitos de pedras, e eu andava, andava, mas não conseguia encontrar nenhuma saída. Além disso, nesse sonho, eu sentia um medo terrível, parecia que algo estava atrás de mim, embora não soubesse o que era, e sentisse muito medo. Depois de certo tempo andando por aquele lugar eu comecei a identificar uma grande sombra surgindo, mas também não dava pra identificar o que era, eu só percebia que a imagem tinha chifres. Existiam momentos em que a imagem mudava e eu me via caminhando por uma estrada longa, vazia e com vasta vegetação ao lado e um céu com nuvens muito escuras.
Bem, eu guardei esse sonho e levei para o psicólogo e narrei com mais detalhes a ele. Contei com bastante entusiasmo sobre o medo que eu sentia naquele momento e o quanto me esforçava pra encontrar uma saída no sonho. Aquilo foi uma experiência estranha demais… e o psicólogo de forma bastante calma me perguntou: “Então Dionísio, o que você acha que esse sonho fala sobre você?”.
Como já estávamos no final da sessão eu preferi terminar e ir embora pensando. Não entendi a pergunta porque eu tinha achado o sonho só estranho e perturbador, mas aquela indagação me colocou num movimento de reflexão e eu sabia que precisava de mais.
Eu fiquei intrigado e de tanto pensar percebi que na verdade eu estava em um labirinto naquele sonho. Lá eu ficava dando voltas em busca de uma saída ou de algo que eu nem sabia exatamente o que era. Eu desejava muito encontrar isso no sonho, tanto que me sentia exausto por dar tantas e tantas voltas naquele lugar.
Analisando minha vida, as coisas que eu tenho vivido nos últimos tempos, penso que eu sofro disso. Eu dou voltas e voltas, mas não saio do mesmo lugar. Muitas vezes eu tento encontrar saídas mas acaba sendo tudo em vão, porque eu me sinto cego tentando escolher as melhores opções.
Eu refleti também sobre o lugar, como ele era construído, as luzes, as pedras, enfim os detalhes… Eu percebi que aquelas paredes de pedras simbolizavam os caminhos que eu percorria na vida e meu estranhamento a esses lugares. Eu já estava acostumado a viver coisas que não faziam sentido pra mim simplesmente pra estar próximo de pessoas que eu admirava. Foi difícil perceber isso.
Outro ponto importante nessa minha reflexão foi a sombra da criatura de chifres. Eu não entendi muito bem, mas em conversa com o psicólogo ele lembrou do Mito do Minotauro e a partir daí muitas outras coisas começaram a fazer sentido e começamos uma longa reflexão sobre minha vida e vários conteúdos que existiam e ainda existem dentro de mim. Eu comecei a entender melhor minhas verdades, meus pensamentos e os comportamentos que eu mantinha no dia a dia.
Nenhum de meus contos retrata o caso de algum paciente atendido por mim. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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