O Davi passou em frente a sala e meu coração mais uma vez quase pulou pela boca. Por alguns segundos fiquei esperando ele retornar porque certamente estava indo ao banheiro e voltaria pra sala, o que não aconteceu. Era assim que eu me sentia no início, queria vê-lo a todo momento, mas há alguns meses eu vivo um dilema que me faz querer ser diferente de quem sou, por isso, iniciei o acompanhamento psicológico… Tô legal não hein…
Me chamo Andressa, tenho 24 anos e vou contar pra vocês como isso tudo começou…
Eu me apaixonei pelo Davi à primeira vista. Nós estudávamos na mesma facul aqui no Rio, eu curso letras português-inglês e ele fazia educação física. Ele é lindo demais, inteligente, comunicativo e terminou a faculdade mês passado.
Eu o conheci em fevereiro de 2020, por um pequeno incidente na cantina. Nós estávamos na fila aguardando nossa vez e na empolgação da conversa com nossos respectivos amigos nos viramos de supetão e colidimos. De imediato nos olhamos enfurecidos, ele achou que eu fiz de propósito e eu pensei o mesmo, por isso rolou um estresse momentâneo.
– Sei que o espaço é apertado, mas bem que você poderia ficar um pouco mais afastado né!
– Qual é menina, tá reclamando do espaço vai pro restaurante do shopping então.
Depois dessas palavras atravessadas nossos amigos estranharam a situação e interviram. A gente parou a pequena discussão e cada um ficou na sua esperando pra pedir o lanche…
Tudo começou desse jeito, mas passado um mês eu o vi novamente na fila da copiadora jogando umas piadinhas sobre a situação da cantina, eu acabei achando aquilo tudo muito engraçado e assim começamos a conversar. Depois de umas duas semanas de bate papo pelos cantos do campus da universidade, finalmente rolou o primeiro beijo.
Davi é um cara muito envolvente, ele é carinhoso, sabe falar as coisas que gostamos de ouvir e isso me cativa. Eu verdadeiramente me apaixonei por ele rápido e hoje, as véspera de completar um ano que nos conhecemos, estou em crise comigo mesma.
Como eu disse, Davi era aluno de educação física, ele se formou recentemente e só está aguardando os trâmites burocráticos da universidade pra começar atuar na área. Basicamente ele segue aquele padrãozinho de professores de educação física, é um cara sarado, ratinho de academia, acorda cedo pra correr, etc. e eu não sou assim, na verdade eu sou o oposto, sempre fui sedentária e um pouco cheinha.
Desde que começamos a ficar essa questão me incomoda. Eu olho pra ele, para os amigos dele com as respectivas namoradas e me sinto deslocada. É todo mundo fitness, marombeiro, tem uma galera que curte até crossfit rs. Eu não faço nem caminhada na praça, como disse sou completamente sedentária e não gosto de ficar transpirando.
O tema de nossa primeira briga foi esse. Davi diz que não se incomoda pelo fato de eu estar acima do peso, mas eu sei que isso não é verdade. Não faz muito sentido ele querer ir a praia com os amigos, todos levarem as namoradas e ele nunca me chamar. Tudo bem que eu não curto muito praia, mas o fato de ele nunca me chamar deve ter uma explicação e eu acho que é isso.
De uns 4 meses pra cá eu cismei que precisava emagrecer e decidi não sair mais com o Davi até conseguir alcançar este objetivo. Eu queria que ele sentisse orgulho de mim, que me convidasse para os mesmos passeios com seus amigos, essas coisas.
Por isso, pesquisei na internet formas de emagrecer rápido, encontrei umas dietas malucas que no primeiro mês fez efeito, mas depois eu voltei a engordar e me senti mal. Por causa disso comecei a induzir o vômito também todo dia antes de dormir, além de malhar desenfreadamente.
Minha amigas perceberam essa mudança no meu comportamento e insistiram pra eu fazer terapia, mas eu não via necessidade. Pensava que quando chegasse no ponto ideal eu conseguiria parar, porém isso não aconteceu . Hoje todo mundo que me conhece diz que eu estou estranha, emagreci demais e pareço não estar saudável, isso me deixa mal também.
Por conta disso eu me senti por vencida e comecei a terapia, fui à consulta na primeira semana de dezembro. Confesso ter mentido pro psicólogo na primeira sessão, falei que já tinha parado de induzir o vômito, mas ele percebeu a história logo de cara. Eu contei tudo isso que dividi com vocês pra ele, e depois de mais umas três sessões definimos que precisamos trabalhar alguns pontos ao longo da terapia, como minha autoestima por exemplo, e depois dessas sessões tenho refletido até sobre meu namoro…
Ele me explicou umas paradas legais também, como o fato de nossos pensamentos poder nos enganar psicologicamente. Assim, a gente acaba tendo uma visão exagerada de nós mesmos, nos autoavaliamos de modo distorcido e isso prejudica nosso jeito de pensar sobre o peso e as mudanças que desejamos para nosso corpo. Falou também de comportamentos compensatórios e eu entendi melhor as coisas…
Está sendo uma experiência legal. Eu já percebi o quanto fico mais ansiosa por volta das 22h que é quando eu normalmente sentia a necessidade de induzir o vômito, mas já tem uns vinte dias que consigo me controlar… Yes!!! Yes!!! Yes!!!
Nenhum de nossos contos retrata o caso de algum paciente atendido por nós. Trata-se de uma ilustração da vida cotidiana, de histórias que motivam pessoas a procurarem terapia/psicoterapia.
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